A trama central está no casal vivido por Carolina Dieckmann e Leonardo Sbaraglia, dirigidos por Marco Dutra
A trama central está no casal vivido por Carolina Dieckmann e Leonardo Sbaraglia, dirigidos por Marco Dutra

“O Silêncio do Céu” e a dor da violência que não é dita

DaniPrandi_0188c_500Imagine ver sua esposa ser estuprada e não conseguir fazer nada. Mario (Leonardo Sbaraglia) fica paralisado ao se deparar com o ato de violência ao voltar para casa mais cedo e demora para reagir e tentar salvar Diana (Carolina Dieckmann), atacada por dois homens. O marido, rodeado por uma vida de fobias, apavora-se diante de sua tamanha covardia e não fala. A mulher, por sua vez, também adota um enigmático silêncio. E o que não é dito e, mais além, as suas consequências, se tornam o tema de “O Silêncio do Céu”, mais um bom filme da safra 2016 que chega agora ao circuito depois de três prêmios do recém-encerrado Festival de Gramado.

“O Silêncio do Céu”, que venceu o Prêmio Especial do Júri de Melhor Filme, o Prêmio de Melhor Filme pelo Júri da Crítica e o de Melhor Desenho de Som para Daniel Turini e Fernando Henna no Festival de Cinema de Gramado 2016, se passa em Montevidéu, no Uruguai, e é falado em espanhol. No elenco estão brasileiros, argentinos e uruguaios, sob a direção do paulista Marco Dutra, muito equilibrada, com doses exatas de suspense e drama.

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Chino Darín, filho de Ricardo Darín, está no elenco formado por brasileiros, uruguaios e argentinos

Dutra começou nos longas com a campineira Juliana Rojas, com a qual dirigiu o premiado “Trabalhar Cansa” (2011), e depois lançou “Quando eu era vivo” (2014), com a cantora Sandy, entre outros. Nos filmes anteriores, o suspense já dava o tom, mas agora, ele se sobressai na história que se torna uma tragédia ao lidar com o pior dos piores sentimentos. O desejo de vingança que move o marido não vê consequências e o roteiro, bem elaborado, desafia a imaginação até um desfecho violento, que Dutra segura com equilíbrio, ainda bem.

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Carolina Dieckmann interpreta Diana, mulher vítima de violência que adota um enigmático silêncio

No centro da trama está o casal vivido pela brasileira Carolina Dieckmann e o argentino Leonardo Sbaraglia, muito conhecido por “Relatos Selvagens”, que esteve em Gramado e encantou a todos (as). A atriz brasileira está bem e consegue calar a boca dos preconceituosos com loirinhas das novelas. Mas é Sbaraglia, famoso na Argentina, que rouba a cena com uma interpretação contida, que parece estar a ponto de explodir, com olhares, desconcertos e acertos. Uma curiosidade do elenco é a presença de Chino Darín, filho do ator argentino Ricardo Darín, em um papel pequeno, mas marcante.

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Leonardo Sbaraglia rouba a cena como Mario, um marido que fica paralisado ao ver o estupro da esposa

Aos poucos sabemos a história do casal, que tem dois filhos, e que depois de uma dolorosa separação havia retomado o casamento. A questão em torno da razão do silêncio tanto de um quanto do outro diante de tal violência consome quem assiste. Por que não falam? Há uma explicação ali, e ela é delicada e pode ser dolorosa, assim como os cactus que dão liga para a história daquele novo (velho) casal. Daquela que não vale a pena ser dita, mas que, apresentada aos poucos, basta um olhar para entendermos tudinho.

Trailer

Sobre Daniela Prandi

Daniela Prandi, paulista, jornalista, fanática por cinema, vai do pop ao cult mas não passa nem perto de filmes de terror. Louca por livros, gibis, arte, poesia e tudo o mais que mexa com as palavras em movimento, vive cada sessão de cinema como se fosse a última.

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