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Brechós e desapego, uma moda que pode virar hábito

10 FabiMarcela mais perto_500Brechó anda na moda. Não na cartilha da moda, claro, mas na conversa entre amigas, em artigos na internet e até nas mais improváveis mídias. Toda semana tem gente desengavetando aquilo que não usa mais para vender num brechó físico ou nas nuvens.

Boa parte desse burburinho foi desencadeado pela crise. A possibilidade de comprar roupas mais baratas ou gerar alguma renda vendendo as que estão encostadas no armário foram o mote da batida perfeita para tempos de recesso na economia.

Queremos muito que a crise passe, mas que não leve com ela os brechós, porque um tanto mais além do que uma alternativa para a crise, roupas de brechó são um caminho para o consumo consciente, uma oposição à cultura do excesso e do modismo “tem que ter”, um bom começo para uma filosofia de vida sustentável.

Roupas de segunda mão têm a ver com adquirir peças e objetos que já não fazem mais sentido para um outro alguém, que podem ter sido comprados em um momento de impulso e por conta disso nem foram usadas,tem a ver com não querer adquirir mais do mesmo a cada semana só porque foi acrescentado uma cor ou uma listra no tecido, tem a ver com não querer validar um mercado cada vez mais saturado que utiliza mão de obra (bem) barata e degrada o meio ambiente – a indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo perdendo apenas para a indústria do petróleo.

Tem a ver, também, com a descoberta de que estilo vem de dentro para fora e não o contrário e, então, perceber que vale mais uma peça no corpo do que infinitas entulhadas no guarda-roupa. Vai além do que simplesmente estar na moda. No entanto, se ‘estar na moda’ for só o começo para que mais e mais pessoas entrem em contato com esse universo, a gente segue torcendo para que brechó seja a crista da onda.

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Segunda chance

Brechó também é um lugar onde as pessoas vendem suas roupas. Se você tem uma pilha de roupas que considera digna de ter uma segunda chance com outro alguém, mas não sabe se leva para doação ou vende num brechó, algumas perguntinhas básicas podem te ajudar a fazer uma boa triagem:

  1. Qual é o estado real da peça? A peça está em bom estado e sem aquele cheiro de guardado? Ninguém gosta de entrar em um brechó e sentir aquele famoso cheirinho de mofo. Pois é, nem você, né?
  2. Quantas vezes foi usada? Peças muito usadas, que já estão desbotadas e com o tecido comprometido não são aceitas em brechós. O mesmo vale para peças com manchas ou furinhos, ainda que pequenos.
  3. Qual é o apelo dessa peça para estar num brechó? Se for uma peça muito comum, tipo uma regata ou camiseta basiquinha, alguns brechós podem não ter interesse na peça. Os brechós curtem garimpar peças legais, que não são encontradas em qualquer lugar, pois é isso que seu público procura.
  4. Seja sincero com você: eu compraria essa peça que estou tentando vender em um brechó?

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Essa avaliação tem que ser feita isenta de sentimentalismo, é uma análise nua e crua que te leva a uma resposta certeira.

É importante, também, ter em mente que o valor que você pagou pela peça pode estar longe do valor que você vai conseguir vender. Isso porque num brechó elas serão vendidas por cerca de 30% do valor original. Significa que serão compradas por bem menos que os 30%. Os brechós também pagam impostos e têm os mesmos custos de uma loja comum.

O próximo passo é avaliar o estilo dessas peças e detectar entre as inúmeras variedades de brechós qual se encaixa melhor com elas:  luxo, vintage, contemporâneo, peças simples com preço amigo, modernos que misturam itens novos e usados ou brechó boutique.

Analise em qual deles suas peças se adequam. Normalmente – não é regra – brechós costumam comprar lote de peças. A compra de três ou quatro peças fica economicamente inviável para os dois lados. Nesse caso, é melhor partir para a venda direta através de um site com esse fim específico. Fundamental estarem limpas, sem cheiro e em ótimo estado, mesmo para a venda através de um site.

Agende uma visita para avaliação das suas peças, antes de bater na porta dos brechós. Nem sempre eles estão comprando, e marcar uma horinha é simpático.

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Vale dizer que brechó não tem a finalidade social de um bazar. É um negócio como outro qualquer, que gera empregos, contribui para a economia local, paga impostos, ou seja, tem todos os ônus de qualquer outra empresa.  Ser de segunda mão é apenas uma especificação do negócio, da mesma forma que uma loja de roupa esportiva ou de roupa social. Um brechó, assim como uma marca, também tem seus pilares amparados em sua visão, missão e valores. Oferece curadoria, avaliação, higienização, além da divulgação das peças. Na sua essência, não está amparado numa situação momentânea de crise e sim numa cultura, numa filosofia de vida.

Muitas vezes os brechós são fontes de pesquisa para estudantes de moda, ou são locais que alugam figurinos para produções, tudo depende do estilo de cada um.

Outra alternativa para sua pilha de roupas – e para essa é preciso ter tempinho sobrando para administrar – são as plataformas virtuais nas quais você consegue montar a sua própria loja de maneira bem simples e didática.  Sem falar de aplicativos, sites de troca e os grupos de redes sociais.

Como falamos no comecinho desse artigo: brechó anda na moda e está entrando cada vez mais na vida das pessoas. Estamos torcendo para que vire um hábito.

Sobre Fabiana & Marcela Pacola

FABIANA PACOLA IUS – Paulista, Jornalista e comprometida com o design. Planejar o visual gráfico é um desafio que considera fascinante. Acredita nas sutilezas do humor. Ultimamente anda de mãos dadas com a economia criativa e colaborativa. A sustentabilidade e o consumo consciente andam rondando seu cotidiano. MARCELA BRANDI PACOLA – Paulista, administradora de empresas, curiosa e inquieta. Dentre suas paixões, a moda e a arte sempre ocuparam um lugar especial. Depois de uma longa jornada pelo mundo corporativo, resolveu dar uma chacoalhada na sua vida e se aventurar pelo universo da economia criativa. Acredita que os novos modelos de negócio desenvolvidos a partir da criatividade e do colaborativo nos ajudarão a construir um futuro mais humano e sustentável.

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