Por pouco Campinas não viveu uma tragédia neste domingo, quando mais uma vez foi lembrado o Dia Mundial do Meio Ambiente. Uma forte tempestade, inicialmente caracterizada como tornado e depois como “microexplosões” pelos meteorologistas, provocou pânico e destruição, com quedas de árvore e postes, destelhamentos, corte de energia e muitos outros danos. O evento apenas não resultou em catástrofe, com a perda de vidas humanas, pelo horário em que aconteceu, entre últimas horas do dia 4 e primeiras do dia 5. Mas o episódio deixa muitas lições.
Uma delas é a de que as áreas metropolitanas, como a de Campinas, devem aprimorar sua preparação para eventos climáticos extremos, que tudo indica vão ocorrer com maior intensidade. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) já havia notado que, entre os impactos já sentidos da mudança do clima no Brasil, está o aumento do número de dias com chuvas acima de 30 milímetros na Região Sudeste. A multiplicação de eventos extremos, como tornados e secas, em várias partes do planeta, também vem sendo documentada pelo IPCC e muitos outros grupos de estudos.
A necessidade de melhor e maior número de pesquisas sobre os efeitos das mudanças climáticas em áreas urbanas é outra lição do episódio de ontem em Campinas. Mais um motivo, portanto, para a maior aproximação entre a administração pública e o polo científico e tecnológico sediado na cidade e região, o que historicamente não se deu como deveria. Muitos serão os benefícios de um diálogo ampliado entre os gestores e o polo científico e tecnológico.
Outra lição do 5 de junho de 2016 é que eventos climáticos extremos não causam resultados desastrosos somente para as camadas mais vulneráveis da população. As mudanças climáticas em curso em escala global atingem a todos os segmentos, embora, claro, os mais vulneráveis sofram mais. Mas que os menos vulneráveis não tenham ilusões: todos serão afetados de alguma maneira pelas mudanças climáticas agravadas pelo aquecimento global de origem humana, e daí a urgência para que haja um esforço de todos para barrar as emissões de poluentes que incidem sobre essa metamorfose do clima, embora a maior responsabilidade seja de governos e corporações.
A região de Campinas sentiu fortemente as consequências da estiagem de 2014 e 2015. Agora a cidade convive com fortes chuvas em período geralmente seco. Os eventos climáticos extremos vão continuar a desafiando a capacidade de adaptação dos grandes centros urbanos. Um motivo de esperança é o esforço que Campinas vem fazendo para incorporar as diretrizes do programa de Cidades Resilientes, das Nações Unidas, o que significa aprimoramento das medidas de prevenção e reação. Mas o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2016 não deixa dúvidas quanto à urgência de estratégias e ações cada vez mais abrangentes, multidisciplinares e sólidas.