Detalhe de obra de Thiago Martins de Melo, na 13ª Bienal Naïfs do Brasil, no SESC-Piracicaba
Detalhe de obra de Thiago Martins de Melo, na 13ª Bienal Naïfs do Brasil, no SESC-Piracicaba

O êxito de Piracicaba e o enigma de Campinas na cultura

No sábado, dia 27 de agosto, começou mais uma edição do Salão Internacional de Humor, que acontece no Engenho Central. Há alguns dias começou a décima terceira edição da Bienal Naifs do Brasil, no SESC. Dois grandes eventos, de alcance nacional e internacional, ocorrendo de forma simultânea em Piracicaba, que também conta com outras iniciativas de porte e longevas, como o Salão de Arte Contemporânea, somando 48 edições. É o contrário de Campinas que, apesar de seu potencial, não consegue manter uma grande iniciativa cultural durante muito tempo, com raras exceções, como o Feverestival, que sobrevive pela força, energia e persistência de seus organizadores, sempre esforçando por uma programação substanciosa. Quem pode decifrar este enigma?

Uma cidade rica, com mais de 1 milhão de habitantes, decantado polo científico e tecnológico, com universidades importantes como Unicamp e PUC, Campinas não têm obtido êxito, ao contrário de outras cidades, em manter um evento de grande alcance e visibilidade, que perdure muito tempo. Curitiba tem o seu Festival de Teatro, Joinville o seu Festival de Dança, Piracicaba tem o Salão de Humor e outras atrações etc. A Bienal do Livro de Ribeirão Preto é cada vez mais importante, a Flipoços também. E sem falar na Flip de Parati, claro. A lista é suficiente.

Será que é porque Campinas não valoriza a Cultura? Certamente não. Há muita gente e muitos grupos que têm sua vida ligada à cultura, de alta qualidade, na cidade. Há muitas instituições de enorme relevância para a história cultural campineira e do Brasil por aqui. Há pessoas no poder público que sabem o valor da cultura para uma comunidade. O que faltaria então?

Talvez maior articulação entre o poder público e as instituições, grupos e artistas produtores de cultura? Talvez a chamada vontade política, expressão batida e muito utilizada quando se quer explicar a ausência disso ou daquilo? Talvez um interesse maior por parte da iniciativa privada, que também apresenta suas exceções no apoio às artes e cultura em geral?

Tradição não falta. Carlos Gomes, Guilherme de Almeida, Paulo Freire, Zeferino Vaz, Hilda Hilst, Rubens Alves são apenas alguns nomes da galeria da cultura e das artes em Campinas, que já teve um Salão de Arte Contemporânea que revelou grandes talentos para o país e o mundo.

Mas o enigma permanece. E é um enigma importante demais e que precisa ser resolvido. Cada vez mais a cultura, as artes, o patrimônio, são elementos essenciais à economia na sociedade contemporânea. Pode gerar muita renda, muito emprego. A Europa é um exemplo perfeito nesse sentido. Nova York, do mesmo modo, deve muito de seu protagonismo à sua frenética atividade artística, em diversos campos.

O Brasil está atrás, mas muitas cidades já deram passos importantes para se tornarem territórios reluzentes de economia criativa. Campinas tem enorme capacidade de dar saltos muito maiores do que já tem dado. Tomara que o enigma seja logo decifrado, para que ele não nos engula!

Enquanto isso, desfrutamos os eventos de Piracicaba, como o Salão de Belas Artes, que está em sua 63ª edição ininterrupta, em cartaz na Pinacoteca Miguel Dutra até o dia 13 de setembro.

Sobre José Pedro Soares Martins

Mineiro nascido com gosto de café e pão de queijo, ama escrever pois lhe encantam os labirintos, os segredos e o fascínio da vida traduzidos em letras.

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2 Comentários

  1. Isabela Cristina Salgado

    Eu acredito que a cultura aqui em Campinas ainda é vista somente como diversão. E também essa questão da tradição: é importante mas só isso não basta. Precisamos nos reciclar. nos renovar. Como? Toda manifestação cultural precisa proporcionar uma intervenção que transforme a realidade, precisa trazer algo novo. Estamos nesse marasmo porque nos acomodamos no “mais do mesmo” e estamos preguiçosos. Eu gostaria de intervir mais, mas quando penso nisso fico sem saber por onde começar.