Foi só a primeira delação e aconteceu esse barulho todo. Faltam mais de 70. Vários analistas não prognosticam um futuro positivo para o governo de Michel Temer. O certo é que a crise institucional é para lá de grave. Os setores mais à esquerda culpam o impeachment, que teria provocado todo esse desarranjo que estamos presenciando. O resultado imediato é que o sistema partidário brasileiro implodiu. Desmoronou, ruiu. Mais do que nunca é a hora da sociedade civil acelerar o seu protagonismo, como já aconteceu em outros momentos críticos da nossa história nada estável.
Foi assim durante o regime militar. Organizações como a ABI, SBPC e até CNBB (depois do apoio inicial da Igreja ao golpe) desempenharam um papel fundamental para criticar as bases da ditadura. Estiveram na linha de frente da resistência, quando o bipartidarismo impedia maiores voos da classe política.
No período pós-ditadura, e sobretudo durante a elaboração da nova Constituição, a sociedade civil também teve uma atuação relevante no cenário nacional. Os dois anos de Constituinte foram um instante mágico, de mobilização e discussão qualificadas. Um Brasil diferente, muito mais justo, inclusivo e de valorização da vida estava no horizonte.
A Constituinte deu frutos brilhantes, como o ECA, que possibilitou uma reviravolta no olhar para a infância e juventude. Mas não houve o mesmo cuidado na construção do sistema partidário. Depois do bipartidarismo, nasceram siglas que, em sua grande maioria, aos poucos foram sendo dominadas por práticas e valores nada republicanos. Estruturas controladas por homens, brancos e que não estimulam a efetiva participação nem feminina, nem pluriétnica e nem da juventude.
Pois chegamos a um ponto limite, já no fundo do poço. Mais abaixo dele está o insondável, o enigmático, o muito perigoso. É a vez da sociedade civil novamente estar à frente, o que já poderia ter ocorrido por ocasião dos movimentos de junho de 2013 e não aconteceu. Aliás, muito do que estamos assistindo hoje, atônitos, deve-se ao fato de que a classe política não entendeu a mensagem das ruas em 2013.
Uma grande frente democrática, pelo bem do país, das atuais e futuras gerações. É um compromisso ético, uma exigência e uma urgência. A hora é agora.