Em junho de 2013, já poderia ter ocorrido um maior protagonismo da sociedade civil (Foto Martinho Caires)
Em junho de 2013, já poderia ter ocorrido um maior protagonismo da sociedade civil (Foto Martinho Caires)

Com a implosão do sistema partidário, sociedade civil precisa resgatar protagonismo

Foi só a primeira delação e aconteceu esse barulho todo. Faltam mais de 70. Vários analistas não prognosticam um futuro positivo para o governo de Michel Temer. O certo é que a crise institucional é para lá de grave. Os setores mais à esquerda culpam o impeachment, que teria provocado todo esse desarranjo que estamos presenciando. O resultado imediato é que o sistema partidário brasileiro implodiu. Desmoronou, ruiu. Mais do que nunca é a hora da sociedade civil acelerar o seu protagonismo, como já aconteceu em outros momentos críticos da nossa história nada estável.

Foi assim durante o regime militar. Organizações como a ABI, SBPC e até CNBB (depois do apoio inicial da Igreja ao golpe) desempenharam um papel fundamental para criticar as bases da ditadura. Estiveram na linha de frente da resistência, quando o bipartidarismo impedia maiores voos da classe política.

No período pós-ditadura, e sobretudo durante a elaboração da nova Constituição, a sociedade civil também teve uma atuação relevante no cenário nacional. Os dois anos de Constituinte foram um instante mágico, de mobilização e discussão qualificadas. Um Brasil diferente, muito mais justo, inclusivo e de valorização da vida estava no horizonte.

A Constituinte deu frutos brilhantes, como o ECA, que possibilitou uma reviravolta no olhar para a infância e juventude. Mas não houve o mesmo cuidado na construção do sistema partidário. Depois do bipartidarismo, nasceram siglas que, em sua grande maioria, aos poucos foram sendo dominadas por práticas e valores nada republicanos. Estruturas controladas por homens, brancos e que não estimulam a efetiva participação nem feminina, nem pluriétnica e nem da juventude.

Pois chegamos a um ponto limite, já no fundo do poço. Mais abaixo dele está o insondável, o enigmático, o muito perigoso. É a vez da sociedade civil novamente estar à frente, o que já poderia ter ocorrido por ocasião dos movimentos de junho de 2013 e não aconteceu. Aliás, muito do que estamos assistindo hoje, atônitos, deve-se ao fato de que a classe política não entendeu a mensagem das ruas em 2013.

Uma grande frente democrática, pelo bem do país, das atuais e futuras gerações. É um compromisso ético, uma exigência e uma urgência. A hora é agora.

 

 

 

Sobre José Pedro Soares Martins

Mineiro nascido com gosto de café e pão de queijo, ama escrever pois lhe encantam os labirintos, os segredos e o fascínio da vida traduzidos em letras.

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