Campinhos em todo Brasil, territórios de histórias de terra e coração. Em que campo joga o Brasil? (Foto José Pedro Martins)
Campinhos em todo Brasil, territórios de histórias de terra e coração. Em que campo joga o Brasil? (Foto José Pedro Martins)

2022, a morte do Brasil ingênuo e sorridente?

A morte de Pelé neste 29 de dezembro de 2022 encerra um ciclo e talvez vários. O gênio do futebol se vai no mesmo ano que Erasmo Carlos e Gal Costa e logo depois de mais um fracasso da seleção canarinho (sim, cabe ironia). Acho que não é por acaso que tudo isso acontece nos estertores do atual governo federal, cuja sequência de expressões de barbárie colocou definitivamente por terra um monte de mitos sobre a identidade do Brasil e dos brasileiros e brasileiras.  O país não é, mesmo, aquele risonho, até certo ponto ingênuo, das décadas de 1950 a 1970 que, ditadura no meio, mas com Bossa Nova, Brasília, Cinema Novo, Tropicalismo e Tricampeonato Mundial, colocaram o Brasil no mapa mundi da cultura globalizada. Tirando a violência dos porões, que alguns gostaria de resgatar, naquele período emergia um Brasil criativo, ousado e feliz.

Não é por acaso, igualmente, que esse fim de ciclo, ou ciclos, ocorra no ano em que se lembra o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e o bicentenário da Independência de 1822. Bicentenário que, lembremos, foi marcado por manifestações funestas, como a viagem do coração de D.Pedro. Tudo a ver com a necropolítica praticada nos últimos quatro anos.

Essas duas datas, coincidentes em 2022, renovaram as eternas perguntas sobre o que é ser brasileiro e sobre qual o destino do país. Neste ano terrível, uma coisa ficou clara, o brasileiro não é com certeza o homem cordial. Se as milícias do Rio de Janeiro, a crueldade do racismo e da misoginia e, antes, a tortura do regime militar ainda não eram suficientes para derrubar esse mito, o parto do terrorismo político no final do ano, contra a eleição de Lula, não deixou mais margem para dúvidas. Aquele Brasil acabou, é preciso construir outro.

Enfim, a simples posse, pela terceira vez, de Lula no próximo domingo não vai enterrar o horror que temos vivido. Será preciso muito trabalho, muito debate, muita arte e muito afeto acima de tudo, para a reconstrução do Brasil. Ou será construção, finalmente, agora que nos olhamos e nos percebemos como realmente somos no espelho da realidade? Anos desafiadores pela frente.

 

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