Artigos Recentes

Um ano depois, chega ao Brasil "Fatima", vencedor do César 2016, que conta a história da argelina Fatima (Soria Zeroual) e suas filhas na França

O véu de “Fatima” no choque cultural de nossos tempos

Em uma temporada com fortes concorrentes, “Fatima” foi o vencedor do César, o “Oscar francês” de 2016, em três categorias: melhor filme, roteiro e atriz revelação, para Zita Hanrot. Triste, moderno e realista, o filme destaca a distância cada vez maior entre a nova geração francesa dos filhos dos imigrantes africanos, que nasceram ali, e a de seus pais, muitos dos quais não falam francês. Mas, mais do isso, “Fatima” destaca a hora de separar o que vai e o que fica. Um ano depois, o filme chega ao Brasil. Logo no primeiro dia de exibição, em uma tarde calorenta de uma quinta-feira de março, havia fila para a sessão da tarde no cinema cult de Botafogo, no Rio de Janeiro. Chamava atenção um grupo de amigas que falava (alto) sobre a atitude/aceitação das mulheres que usam lenço, o véu …

Leia Mais »
Crédito: Nasa

Face a face

Quando você olha dentro do abismo, o abismo olha dentro de você. (Friedrich Nietzsche) A comandante Ethel mal conseguia conter o entusiasmo. E daí que sua vida pessoal tivesse havia muito se desintegrado ao longo de sua carreira? Ela era o primeiro ser humano a orbitar radicalmente, porém com segurança razoável, um buraco negro, com chances reais de obter imagens com altíssima resolução do que rolava “lá dentro”. O macete era manter a nave só um tiquinho aquém do horizonte de eventos de Sagittarius A*, o buraco negro monstruoso no centro da Via Láctea. Orbitalmente ancorada ali, ela poderia operar a otimização do sistema observacional e realizar o grande feito, nunca alcançado pela humanidade (e, provavelmente, nem por qualquer outra espécie). Passaram-se boas décadas desde que cientistas obtiveram a primeira imagem real do buraco negro. Na época, eles construíram um …

Leia Mais »
Ilustração: Well Junio, do estúdio Padoca

O que os cachorros de Seu Pedrinho nos ensinam sobre cooperação?

Seu Pedrinho foi alguém que ficou marcado nas minhas memórias de criança. Ele era daquelas pessoas típicas do interior de São Paulo, como as representadas pelo ator Mazzaropi. Não era dado a luxos, vivia com sua família numa modesta casa num sítio em Cajobi. Não sei por que, mas, ainda hoje, sua imagem me vem à cabeça: ele tinha uma voz rouca… falava baixinho… Possuía uma charrete que usava para vender queijos frescos, e a sua chegada era sempre ouvida a quilômetros de distância pelos latidos de seus mais de vinte cachorros que o acompanhavam em todos os lugares aonde ele ia. Seu Pedrinho os adorava e, ao que parecia, o sentimento era recíproco, pois, em todas as vezes que ele se agachava para fazer seu cigarro, todos os seus cães prontamente o cercavam. Eu, aos oito anos, imaginava a …

Leia Mais »
Com cenas memoráveis, "Trainspotting 2" mantém o mantra "primeiro a oportunidade, depois a traição"

A volta de Trainspotting e de tudo aquilo que nos faz turista da nossa juventude

A música é frenética, Renton (Ewan McGregor) está correndo, mas o ambiente é bem diferente do primeiro “Trainspotting”. O escocês maluco que deu o golpe nos não menos malucos Spud (Ewen Bremner), Sick Boy (Jonny Lee Miller) e Begbie (Robert Carlisle) há 21 anos, está correndo na esteira de uma academia lotada. A sequência inicial de “Trainspotting 2”, ou “T2”, que estreia nesta quinta-feira (23 de março), manda logo o recado: o mundo mudou. David Bowie está morto, o telefone celular comanda nossas vidas, as câmeras de vigilância nas ruas nos lembram que nada escapará, as redes sociais dominam as relações, tem Viagra, tem drogas sintéticas e… Brexit. Neste admirável mundo nem tão novo, o reencontro com os quatro malucos criados pelo escritor escocês Irvine Welsh é inesperado. Ninguém sabia que eles estavam vivos. E ninguém, vamos falar a verdade, …

Leia Mais »
Crédito: Pwjamro/creativecommons.org

Da criação das sombras

Ah, tá bom, tá bom, confesso que andei adiando isto aqui. Por que? Sei lá se por algum prurido idiota produzido pela carga emocional, ou porque a coisa ainda me espeta a alma caminheira em vã com uma carga poderosa de nostalgia. Ou só porque o tema é realmente muito triste. Resolva você, hipotético porém sempre generoso leitor deste nosso blog. O que nos interessa realmente é que chegou a hora de falar DELE. E que ninguém por aí ouse rir demais: zombar de crianças que nutrem amigos imaginários é politicamente muito, mas muito mesmo incorreto, né não? (e que ninguém por aí tampouco perca de vista que este pobre escriba sessentão que lhes enche o saco semanalmente nunca deixará de ser uma… criança). Pois bem, chega de papo furado, vamos então à sangria, ao que parece, necessária e inevitável, …

Leia Mais »