O filme islandês "Desajustados", do diretor Dagur Kári, sobre o quarentão obeso e solitário Fúsi, já ganhou três prêmios no Festival de Tribeca em 2015, por melhor narrativa, roteiro e ator Gunnar Jónsson (foto)    Fotos: Divulgação
O filme islandês "Desajustados", do diretor Dagur Kári, sobre o quarentão obeso e solitário Fúsi, já ganhou três prêmios no Festival de Tribeca em 2015, por melhor narrativa, roteiro e ator Gunnar Jónsson (foto) Fotos: Divulgação

A dança dos desajustados

DaniPrandi_0188c_500A vida sempre nos apresenta novos caminhos, mas, geralmente, por medo ou preguiça, paramos em algum ponto e não saímos mais dali, metidos na tal da zona de conforto. É o que aconteceu com o grandalhão Fúsi (Gunnar Jónsson), que todos os dias come sucrilhos no café da manhã, vai trabalhar no setor de bagagens do aeroporto, volta para casa, dedica-se ao hobby das miniaturas da Segunda Guerra Mundial, e assim a vida vai passando. Aos 40 e poucos anos, ainda virgem, é tímido, bondoso e carrega em seu corpanzil toda a gentileza do mundo. Fúsi é o protagonista de um belo, singelo e imperdível filme da Islândia que tem feito sucesso no circuito alternativo com o terrível título de “Desajustados”.

O título original do filme é justamente Fúsi. Para a questão sobre quem é “ajustado” ou “desajustado” nessa história deixo a explicação para o responsável pela nomeação em terra nacional.

Dirigido por Dagur Kári, diretor que nasceu na França mas foi criado na terra natal dos pais, a Islândia, “Fúsi” (vamos ficar com o título original) é daqueles filmes que te acompanha depois que a luz acende. Na pequena sala de cinema alternativo no bairro Botafogo, no Rio, com praticamente todos os 60 lugares ocupados em um chuvoso fim de tarde de uma segunda-feira, o silêncio respeitoso que um bom filme merece só era cortado por alguns risinhos aqui e ali. É que, apesar do tom melancólico, “Fúsi” tem graça.

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Fúsi é o protagonista de “Desajustados”, filme islandês que é sucesso no circuito alternativo

O protagonista sofre de tudo um pouco. É obeso, solitário, descobre que a mãe, com quem mora, está de namorado novo, que não o quer por perto, sofre bullyng pesado no trabalho e tem uma incomunicabilidade de dar nos nervos. Uma menina, Hera (Franziska Una Dagsdóttir), muda-se para seu prédio e, ambos em extrema solidão, acabam envolvidos em um grande mal-entendido. Há, sim, um único amigo em sua vida, com o qual compartilha o hobby das miniaturas de guerra, e responsável por um dos melhores diálogos do filme, mas é só.

O grandalhão segue uma rotina espartana na gélida Islândia, cujo frio e neve tomam conta do cenário: todas às sextas vai ao mesmo restaurante, pede o mesmo prato e, depois, telefona para a rádio local para pedir uma música heavy metal. Sozinho no carro, ouve o som pesadão e volta para casa. E ponto final.

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Aos 40 e poucos anos, o grandalhão Fúsi é tímido, bondoso e carrega toda a gentileza do mundo

Até que um dia o tal namorado da mãe tem a brilhante ideia de o presentear, no seu aniversário, com um curso de dança. E não é qualquer dança. É curso para aprender a bailar ao estilo dos cowboys, com direito a Dolly Parton na trilha sonora. Fúsi ganha até mesmo um chapéu. Apesar de não ter coragem para bailar, quer o destino que uma garota, Sjöfn (Ilmur Kristjánsdóttir), cruze o seu caminho. E, como o título brasileiro antecipa, agora são dois “desajustados”.

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A história de Fúsi é do tipo que vai acompanhar o público depois que a luz acende

O filme, que levou três prêmios no Festival de Tribeca em 2015 – melhor narrativa, roteiro e ator (Jónsson) – consegue escapar dos clichês ao acompanhar os “ajustes” e “desajustes” desse casal sem muito futuro. Não há caminhos fáceis, sair da zona de conforto exige abnegação e a aceitação do imprevisível.

Para quem está acostumado com as tragédias ou o lugar-comum dos filmes padrão Hollywood, o desfecho vai por uma outra via, mais realista, mas mesmo assim de uma doçura encantadora. O roteiro, também assinado pelo diretor, transborda ternura, assim como Fúsi.

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Sobre Daniela Prandi

Daniela Prandi, paulista, jornalista, fanática por cinema, vai do pop ao cult mas não passa nem perto de filmes de terror. Louca por livros, gibis, arte, poesia e tudo o mais que mexa com as palavras em movimento, vive cada sessão de cinema como se fosse a última.

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2 comentários

  1. Daniela,achei muito legal esse texto descrito,parece mesmo que o filme nos toca profundamente.,tenho acompanhado todos os seus comentários e tenho achado ótimos.