Um dia perfeito, para a maioria, inclui passear, rir, comer bem, estar com a família e os amigos. Para alguns, porém, é apenas conseguir uma corda para retirar um corpo jogado em um poço e, assim, garantir o abastecimento de água potável de um vilarejo. Baseado no livro “Dejarse llover”, da médica Paula Farias, da ONG Médicos sem Fronteiras, o filme “Um Dia Perfeito” coloca em perspectiva uma guerra recente, a dos Balcãs onde, na passagem dos anos 80 para os 90, vizinhos que até então conviviam muito bem começaram a matar uns aos outros diante dos olhos assombrados do mundo.
Com direção do espanhol Fernando Léon de Aranoa, o filme exibido no Festival de Cannes de 2015 conta com um elenco de primeira, com Benicio Del Toro à frente. Seu personagem é um agente humanitário que atua na região logo após o final da guerra, em 1995. Faltam poucos dias para ele deixar a missão e, enquanto isso, divide tarefas e angústias com o colega amalucado B. (Tim Robbins) e a recém-chegada Sophie (a francesa Mélanie Thierry).
Um corpo jogado no único poço de água potável em uma região inóspita abre a série de contratempos que vai transformar o roteiro em um quase road movie. Pelas sinuosas estradas das montanhas que hoje separam Bósnia, Sérvia e Croácia os agentes saem em busca de uma corda para içar o defunto antes que a água seja contaminada. Pelo caminho encontram um pouco de tudo: morte, medo, ironia e até um pouco de graça.
Há o garoto que acredita que seus pais fugiram e que sonha em resgatar sua bola, deixada para trás na casa onde vivia, destruída pelas bombas e que guarda um terrível segredo. Há a senhora que segue os passos de suas vacas para, assim, escapar das minas terrestres que até hoje estão por lá. Há os soldados da ONU que, por questões burocráticas, impedem o trabalho dos agentes humanitários. Há os soldados locais, que resistem em aceitar que a paz teria voltado. Há ainda uma melancolia no ar, que acompanha os personagens ao som de uma trilha sonora excepcional, com direito a Lou Reed e Ramones, além da linda interpretação de “Where Have All the Flowers Gone” na voz de Marlene Dietrich.
No meio disso tudo há tempo, ainda, para que o agente humanitário de Benicio Del Toro resolva suas complicações amorosas. Em casa está a namorada e no front uma agente com quem já teve um envolvimento, vivida pela atriz russa Olga Kurylenko. O triângulo desnecessário, gratuito, quase estraga o filme. Quase.
Entre a busca pela corda, a corrida contra o tempo e um medo do futuro que nos acompanha, o desfecho é pop, poético, até engraçado. “There is no time for celebration…”, canta Lou Reed nos créditos finais.
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Uma dica: para conferir “Um Dia Perfeito” na TV, o filme está disponível no serviço Now, da Net. A produção entrou em cartaz no cinema e na TV paga simultaneamente.
Trailer
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