Umas das coisas que eu gostava bastante na minha época de escolinha era a visita das freiras. Elas apareciam na porta da sala de aula quase sempre sem aviso prévio, diziam que queriam falar algumas palavras para se assegurar de que suas estrelinhas estavam seguindo corretamente os santos caminhos propostos.
Nunca sabíamos muito bem quando elas iriam aparecer, e suas visitas eram sempre esperadas com muito prazer, pois nos livraríamos, mesmo que por alguns minutos, das atividades da tia Edna.
Uma delas era grandona, seu hábito parecia sempre lhe apertar o pescoço, ela dirigia uma Kombi branca. Era engraçado ver aquele monte de irmãs se apertando para caber lá dentro. Ela nos chamava de estrelinhas. Uma das coisas de que eu mais gostava em suas visitas era um jogo que ela fazia com a turma antes de ir embora. A brincadeira era bobinha: abríamos os braços e tínhamos que bater nossas “asas” a tudo aquilo que voava.
“Muito bem, estrelinhas, o avião voa?” E todos gritávamos batendo as asas “voooooooa”, e ela esboçava um sorriso enorme e continuava: “Estrelinhas, e o macaco, ele voa?” E nós, já histéricos, “nããããão”. Era uma delícia aquela gritaria toda.
Eu gostava de saber que eu era uma estrela…
Essa doce irmã sabia de nossa curiosidade nata por compreender o mundo que nos cercava, aquele desejo faminto que toda criança possui, desejo de saber, entender e questionar tudo.
Éramos todos, sem dúvida, estrelinhas brilhando num mundo ainda escuro e confuso.
Somos todos estrelas, ou pelo menos viemos delas. Cada um de nós carrega dentro de si a história da vida do universo.
Cito nosso sangue como exemplo. Ele contém moléculas de hemoglobina, e cada hemoglobina tem na sua composição um átomo de ferro. Esse ferro veio do espaço e foi o último suspiro da vida de uma estrela que morreu há bilhões de anos atrás, e hoje você leva dentro de si este exato átomo que um dia pertenceu a uma estrela.
Há algum tempo, pesquisadores descobriram que dentro de meteoritos havia moléculas de açúcares. Esses meteoritos caíram aqui há milhões de anos atrás, e até então a origem desses açúcares era desconhecida. Como eles se formaram dentro dos meteoritos? A resposta a este mistério foi resolvida por pesquisadores franceses e publicada na revista Science, e esta descoberta pode nos dar pistas sobre a origem da vida no planeta.
Mas como a presença de açúcares dentro de meteoritos pode nos dar essas pistas?
A resposta está no DNA. Nosso DNA contém em sua estrutura moléculas de ribose; a ribose é um açúcar e está presente em todos os seres vivos do planeta: seja num sapo, num bolor de pão, numa flor, no seu cachorro e em tudo o que é vivo e ronda a face da Terra. Sem esse açúcar não seria possível a existência do DNA e não seria possível a vida como a conhecemos.
Neste trabalho, os cientistas conseguiram sintetizar a ribose, o açúcar da vida, a partir das condições espaciais: temperaturas abaixo de 200 graus centígrados, altíssimo vácuo, raios ultravioletas. E como ingredientes usaram apenas água, amônia e metanol (moléculas encontradas no espaço e dentro de meteoros).
Os resultados mostraram que é possível que no espaço sideral tenham se formado moléculas de ribose, e assim puderam provar que os açúcares encontrados nos meteoros foram criados no espaço.
Sendo a ribose um dos ingredientes necessários para o DNA, será que a vida aqui na Terra teria se iniciado após uma grande semeadura? Como um agricultor plantando suas sementes, ele as deixou enterradas para que a terra se encarregasse de fazer o seu papel.
Moléculas foram semeadas em tempo para a gênese da vida.
Quem quiser maiores informações sobre o trabalho Ribose and related sugars from ultraviolet irradiation of interstellar ice analogs, basta acessar este link: http://science.sciencemag.org/content/352/6282/208
Es increíble y precioso a la vez! Gracias por descubrirnos cosas tan importantes y desconocidas para muchos.