Um filme que emociona (Foto Divulgação)
Um filme que emociona (Foto Divulgação)

“A Noiva do Deserto” emociona com viagem para reaprender a viver

DaniPrandi_0188c_500De um fiapo de história onde mulher solitária perde a mala durante conturbada viagem de ônibus pela região desértica de San Juan, na Argentina, surge um filme que emociona. “A Noiva do Deserto”, das diretoras Cecilia Atán e Valeria Pivato, é sobre reaprender a viver. Simples e arrebatador, o filme que nasceu de uma coprodução entre Argentina e Chile comprova a força da atriz chilena Paulina Garcia, em corajosa atuação, envelhecida e sem qualquer glamour.

A chilena, diva do belo “Gloria”, de Sebastián Lélio, que rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim de 2013, brilha sem qualquer truque no papel de Teresa, uma mulher contida, abnegada, obrigada a se mudar após gastar sua vida dedicando-se aos patrões e sua família. Claudio Rissi, no papel de Gringo, um falastrão que cruza o seu caminho, é uma ótima surpresa. Do inusitado encontro surge uma fantasia em tons de areia que aquece o coração. Mas o deserto tem seus perigos, assim como o amor, não vamos esquecer.

Paulina Garcia e Claudio Rissi: belas interpretações (Foto Divulgação)
Paulina Garcia e Claudio Rissi: belas interpretações (Foto Divulgação)

A protagonista Teresa não é de falar muito. Aos poucos sabemos que os pais morreram num terremoto no Chile quando ela era uma adolescente e desde então vive em Buenos Aires e trabalha de empregada e babá. Os anos passam, chega a crise econômica e a família é obrigada a vender a casa. Teresa será, então, enviada para trabalhar na longínqua San Juan, para parentes que nunca viu. Depois de dedicar sua vida aos patrões sente-se descartada, mas o filho da família, que ajudou a cuidar e que está prestes a casar, ainda guarda carinho por ela e se preocupa, o que é seu único alento.

 O filme começa com um ônibus parado e os passageiros espantados pelo fato de uma gaivota ter se espatifado no vidro da frente do veículo. Algo improvável no meio do deserto, bem no lugar de peregrinação onde devotos levam flores e garrafas de água a uma santa chamada de “A Defuntinha”. Será algo sobrenatural?

Paulina Garcia reafirma seu enorme talento (Foto Divulgação)
Paulina Garcia reafirma seu enorme talento (Foto Divulgação)

Teresa está de mudança e carrega seus pertences em uma bolsa com praticamente tudo o que já possuiu na vida, enquanto espera pelo ônibus substituto, que vai demorar algumas horas. Em meio ao burburinho das bancas de comidas e das lojas de lembrancinhas da milagreira, a protagonista é atraída para um trailer com vestidos de noiva, já que muitas mulheres estão ali com a promessa de casar. Gringo é o dono da banca e consegue convencê-la a experimentar um dos vestidos. Mas vem uma tempestade de areia e tudo muda. Teresa perde sua mala, o carismático vendedor dos vestidos de noiva entra em sua vida e o filme torna-se outro, quando a busca pela bolsa perdida une dois improváveis personagens no cenário de deserto que ilumina e sombreia, sempre com uma luz especial.

Em uma pequena mas intensa história, afinal o filme tem apenas 80 minutos de duração, Teresa tem a chance de se descobrir e ainda bem que ela aproveita. E, principalmente, entende que é possível mudar para encontrar a felicidade, ou pelo menos sentir que ela existe.

“A Noiva do Deserto” é um filme delicado e sutil que reafirma o talento de Paulina Garcia como uma das grandes atrizes latino-americanas da atualidade. É também uma aula de “menos é mais” na questão do roteiro, com diálogos ótimos, e o capricho visual é outro destaque. Ambas diretoras estreantes contam com muita experiência como assistentes de direção e revisoras de roteiro. Valeria Pivato, aliás, foi assistente de direção de Juan José Campanella desde “O Filho da Noiva” até o cult “O Segredo dos Seus Olhos”. Começaram bem.

VEJA O TRAILER

Sobre Daniela Prandi

Daniela Prandi, paulista, jornalista, fanática por cinema, vai do pop ao cult mas não passa nem perto de filmes de terror. Louca por livros, gibis, arte, poesia e tudo o mais que mexa com as palavras em movimento, vive cada sessão de cinema como se fosse a última.

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