Outro dia, em Goiânia, estava conversando com um companheiro de trabalho sobre coisas engraçadas e curiosas que cachorros fazem com seus donos. Ele me contou uma história de uma vizinha de sua mãe, uma senhora que tinha diabetes tipo 1. Essa vizinha tinha uma viralatinhas, e viviam ela e o cãozinho em uma casa bem simples. Ela tinha que tomar toda manhã um medicamento para controlar a doença,do contrário sua taxa de açúcar cairia muito, e ela poderia ter sérias complicações. Acontece que, às vezes, essa senhora dormia um pouco mais e, por conta disso, não tomava o comprimido no tempo devido. Ele conta que, toda vez que isso acontecia, a cadelinha ficava bastante agitada, latindo e correndo em círculo e pulava em cima da cama e lambendo a dona, na intenção de despertar ela.
Já ouvira falar mais ou menos de uma história parecida e comentei com ele sobre o que poderia estar ocorrendo.Cachorros são bastante sensíveis a cheiros, são capazes de identificá-los na escala de uma parte por trilhão, seria como se nós fossemos capazes de detectar uma colher cheia de açúcar em uma área de três piscinas olímpicas. Existe um trabalho de pesquisadores, do Wellcome Trust-MRC, do Instituto de Ciências Metabólicas e da Universidade de Cambridge, bem interessante.
Eles convocaram oito mulheres com diabetes tipo 1 e, sob condições controladas, abaixaram o nível de açúcar delas, com um equipamento chamado de espectrômetro de massas. Eles analisaram o “cheiro” delas e observaram que, quando a taxa de açúcar estava baixa, havia um aumento significativo de um composto chamado isopreno. Em alguns casos a concentração desse composto dobrava. O isopreno é um composto que expelimos quando respiramos.Os cachorros então foram treinados a reconhecer esse cheiro e saber que, quando ele estava presente em grande quantidade, é porque alguma coisa i amal com seus donos. Eles foram capazes de reconhecer isso com uma eficácia de quase 100% em pessoas tendo uma crise hipoglicêmica.
Para pessoas com diabetes tipo 1, a baixa taxa de açúcar no sangue pode causar sérios problemas como tremores, desorientação, fadiga e, se não receberem uma dose de açúcar, poderão ter convulsões, ficar em coma e algo pior… Para alguns, esses episódios ocorrem sem nenhum aviso. Cães podem dizer quando o nível de açúcar no sangue de seu dono é baixo. O que poderia estar ocorrendo com a cadelinha goiana era exatamente isso, pois, ao se esquecer de tomar a medicação, a senhora passa a ter uma crise de hipoglicemia e, por causa disso, seu corpo começa a produzir o isopreno e a cadelinha, que já convive com ela há anos, sabe que toda vez que suadona está com esse “cheiro”, é porque algo vai mal com ela e, assim, a viralatinhas tenta despertá-la para que ela tome seu medicamento salvando sua vida.
Incrível não? Existem vários trabalhos que mostram que cães também são capazes de“diagnosticar” certos tipos de câncer, como o câncer pulmonar.Muitos grupos estão trabalhando na possibilidade de explorar essas características dos dogs, inclusive um mais recente, para o diagnóstico da malária. De acordo com a ONU, em 2016, foram documentadas 445.000 mortes ao redor do mundo atribuídas à malária.A doença é transmitida através da picada da fêmea do mosquito Anopheles,infectada com o Plasmodium falciparum. Fazer o diagnóstico em suspeitos é bastante trabalhoso e demorado e novas técnicas que pudessem ser usadas como um atalho a isso seriam muito bem vindas.
O professor James Logan, Chefe do Departamento de Controle de Doenças da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), está realizando testes com cães e meias. Como assim?O que vou lhe falar é segredo, e fica só entre nós, porque bem poucas pessoas ainda o sabem, mas o objetivo do professor é utilizar os cães para detectar, através do odor das meias, se a pessoa está infectada com malária,baseado no mesmo comportamento dos cães com a diabetes em que apessoa contaminada com a malária produz um odor diferente que pode ser facilmente detectado pelos cães. Foram obtidas meias de crianças de 8 a 14 anos que vivem no Gambia na África. Das 175 amostras testadas, os cães foram capazes de identificar corretamente 70% das amostras infectadas pela malária, enquanto 90%foram capazes de detectar meias, usadas por indivíduos não infectados. Os resultados não são perfeitos, mas estão bem perto.
Parabéns pelo artigo, achei super interessante.
Quando eu era criança sempre ouvia histórias de minha avó sobre os sons e avisos da natureza e depois que cresci, alguns ainda ficaram registrados em minha memória como sinal de alerta, e me recordo que no dia que minha avó faleceu, um dos tantos cãezinhos viralatas que nós tínhamos, não deixava ninguém chegar perto dela, quem sabe ela estava exalando um cheiro diferente que só o cão detectou ?!
Lendo seu texto acabei lembrando deste fato.