Uma última do bom Portuga e Lud Vic, o publicitário inspirado…
Levou um bom tempo para que o bom Portuga e Lud Vic, o publicitário inspirado, se reconciliassem, após o incidente da “deliciosa rabadinha”. Quando Lud Vic finalmente voltou a adentrar o boteco, foi com o projeto mais visionário de todos: produzir um comercial para entronizar o bar do Portuga definitivamente no mapa dos points in da cidade. “Veja, seu Portuga, o seu estabelecimento já é bem frequentado na noite… estudantes, artistas, jornalistas… imagina então quando a gente veicular o comercial em todas as emissoras de TV da região… vai bombar legal, seu Portuga!”
Por um desses mistérios que levamos para o túmulo sem solução, o bom Portuga sempre acabava caindo na lábia de Lud Vic, por mais que o tivesse na conta dos “maiores-tranqueiras-que-cá-esquentam-o-traseiro-e-a-goela”, como se referia a ele. Sei lá, vai ver e o publicitário tinha realmente um carisma irresistível. Além da força interior que brotava da sua sede descomunal, é claro. Seja como for, o Portuga não só deu sinal verde para o projeto, como enfiou a mão na registradora e cedeu uns bons trocados para Lud Vic iniciar a produção.
A noite seguinte prometia ser mágica: cada reentrância do bar estava tomada por câmeras e refletores; pelo chão ladrilhado recém-lavado serpenteava uma infinidade de cabos; técnicos passavam o som daqui, mediam dali pra fazer as marcações. Finalmente, o genial cineasta chegou, triunfante. E não estava sozinho: trazia um batalhão de modelos. “Que diacho é isso, ô pá?” assustou-se o Portuga. “São as figurantes, meu mecenas” – respondeu Lud Vic, de pronto – “Como a gente quer que o público alvo da peça seja a elite botequeira, nada como uma mulherada bonita em cena, né?” O Portuga mediu as meninas de cima a baixo – aquela maquiagem pesada que nem pintura apache de guerra, as cabeleiras espichadas e oxigenadas, os shortinhos e tops de gosto duvidoso – e questionou: “Então, por que não trouxeste as bonitas?” Lud Vic devolveu, com um muxoxo: “Convenhamos, seu Portuga, com a verba que o senhor adiantou, fiz o que pude…”
O Portuga resolveu ir cuidar do caixa e deixou a maluquice com quem era especialista. Mas não teve muito sossego: do meio do bar irrompeu um bate-boca danado, agravado pelo tilintar de garrafas e copos sendo sacudidos e o arrastar de cadeiras. Correu a verificar. Quem falou foi o Mano Chicãozão, com seu vozeirão de MC: “Vai vendo se pode, seu Portuga, o playboyzinho aqui teve a cara dura de pedir pra nós, que somos fregueses de carteirinha, sairmos do bar, pra que só as cachorrinhas fossem filmadas!”
Solução negociada: as top foram ajeitadas nas mesas do ladinho dos bebuns habitués. Como locação é coisa demorada, a drincaiada foi descendo, o clima foi esquentando… até que trilha sonora do filme era só beijos estalados, arrotos e umas palavrinhas nada leves. No fim das contas, o comercial foi feito. Mas nunca exibido. “Vão pensaire que meu bar é um puteiro!”, decretou o Portuga.