Nem parece que passou tanto tempo. Em 1982, Ridley Scott mudou a história com “Blade Runner”, um filme futurista com roteiro incrível, estética inovadora, elenco afinado e que se tornou cultuado. Muitos sonhavam com uma sequência e eis que aparece “Blade Runner 2049”, que o próprio Scott apresenta como produtor, mas que ninguém se engane: é o franco-canadense Denis Villeneuve quem está no comando.
Diretor de filmes marcantes como o recente “A Chegada” e o emocionante “Incêndios”, Villeneuve honra o filme original, que era ambientado em 2019, e toda a fábula que o envolve de maneira notável. A crítica foi só elogios, mas o filme não teve sucesso nas bilheterias e está com seus dias contados nas salas de cinema. Por isso, se quer ver “2049” como deve ser, na telona, corra.
Vale lembrar que “Blade Runner” é baseado em um conto de Philip K. Dick de 1968 e reúne algumas grandes questões, a principal delas, sem dúvida, a “o que significa ser humano”, afinal? Pois a história continua 30 anos depois e há novos personagens, novos replicantes, novos modelos de relacionamentos, novos vilões, mas com aquela velha atmosfera noir futurista, com carros voadores, a onipresente Sony e o marketing de um futuro distópico que tanto tem preenchido nossa ficção.
No elenco, Ryan Gosling está ótimo como o caçador de replicantes K., da polícia de Los Angeles, cenário tanto do primeiro quanto deste segundo filme. No original, Deckard (Harrison Ford) não tem noção de sua condição, mas aqui as coisas mudaram e todos sabem muito bem o que são e sua missão nesse mundo devastado cercado por lixo radioativo que segue em ritmo salve-se quem puder. A missão de K., no caso, é rastrear e “aposentar” replicantes que já deram muito trabalho depois da rebelião contra o trabalho escravo. No dia a dia, sua única companhia é uma namorada virtual.
Durante uma investigação acaba mergulhado em um caso que se torna pessoal, por mais que isso possa ser ou não uma ilusão. Mas, para não estragar as supresas, e há algumas!, o melhor é entregar o mínimo de informações e garantir o prazer que é reencontrar com todo esse universo que nos acompanha. O que faço questão de dizer é que é emocionante rever Deckard, que nos traz a boa nova de que o que parecia impossível aconteceu. Há esperança de sobrevivência, há uma luz para o futuro. De quebra, há ainda um revival rápido, porém emocionante, de Rachel (a replicante vivida por Sean Young no primeiro filme), que aquece o coração dos mais românticos.
“Blade Runner 2049” nos envolve, traz desafios, mas não é fácil de assistir, exige atenção, tem 163 minutos de duração e nem sempre há muita ação. Talvez isso explique seu fracasso de público e seus infindáveis elogios por parte da crítica e dos fãs. Com o original também foi assim, e quem sabe isso faça parte de alguma tradição.
Uma dica é conferir no YouTube três curtas-metragens antes de partir para a sessão de “2049”. Nos curtas há informações extras e importantes sobre como anda o mundo pós-apocalíptico e como é que eles – nós? – chegamos onde chegamos. Em um deles apresenta-se Niander Wallace, empresário que adquiriu os direitos para produzir replicantes, aqui interpretado por Jared Leto. O papel, segundo Villeneuve, foi imaginado para ser vivido por David Bowie (1947-2016). Não deu tempo, que pena.
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