A virada do ano trouxe um novo Woody Allen aos cinemas e garantiu uma certa dose terapêutica para receber 2018. Afinal, filmes do Woody Allen já foram recomendados como a cura de todos os males, pelo menos em “Paris-Manhattan”, longa da jovem cineasta francesa Sophie Lellouche, que coloca sua protagonista, a farmacêutica Alice (Alice Taglioni), a indicar seus filmes para aliviar as dores da vida. Em “Roda Gigante”, o cineasta, aos 82 anos, mais uma vez faz o seu melhor.
Allen sempre fez questão de misturar emoções, e o humor geralmente predomina. Em “Roda Gigante”, porém, o tom é mais do melodrama, apesar do riso nervoso que permanece. Entre rir, se emocionar e se perguntar pra que tanta loucura afinal, vale procurar respostas para perguntas que ainda nem foram feitas, ou, talvez, adotar uma postura defensiva, parecem mostrar seus personagens.
Estamos de volta a Coney Island, praia de Nova York que um dia nos apresentou Alvy Singer, protagonista do já clássico Annie Hall (1977) – filme que no Brasil recebeu o incrível nome de “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e que ninguém pergunte a razão. São os anos de 1950 e a protagonista é Ginny (Kate Winslet, em atuação para Oscar), casada com Humpty (Jim Belushi), operador da roda-gigante, e amante do salva-vidas Mickey, vivido por Justin Timberlake, que, aliás, é o narrador.
Frustrada, trabalha de garçonete enquanto queria ser atriz, e encontra no aspirante a dramaturgo Mickey uma chance de mudar de vida. Muitos viram um toque de Blanche Dubois, da peça “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tennessee Williams, na protagonista, que (sobre)vive em uma casa improvisada em cima de uma das atrações do parque de diversões.
É verão e há a alegria dos banhistas e o movimento das atrações do parque no intenso colorido que serve de cenário para a história, que acompanha a chegada da filha do primeiro casamento de Humpty àquele cotidiano. Carolina (Juno Temple) foge do marido mafioso e busca refúgio ali. Outro personagem completa a família disfuncional, o garoto Richie (Jack Gore), filho de Ginny, que é piromaníaco e comanda as cenas, digamos, engraçadas do filme.
O parque de diversões se transforma em uma representação do mundo e das vidas que se estruturam em torno da roda gigante, que sobe e desce mas não sai do lugar. A chegada de uma “vilã” move os atos da protagonista, que se debate em sua vida estagnada. Carolina desperta a atenção de seu amante e a rivalidade está lançada. O desfecho deixa um gosto amargo, mas é Woody Allen, e a gente já se acostumou.
Como se não bastasse, o ponto alto de “Roda Gigante” é a iluminada fotografia do mestre Vittorio Storaro, que nos dá um banho de luz. Santo remédio.
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