Artigos Recentes

André Sarria_Public_Domain_stardust19855_1200

Bagana, Beata, Bia e Guimba

Em algumas culturas, é tradição que o ancião fume maconha numa prática religiosa que lhe trará conhecimento e, só depois, ele será capaz de sabiamente analisar a fundo questões importantes de sua comunidade ou tribo. Ao que parece, essa prática possui um fundo cientificamente comprovado. Pequenas doses de THC (Δ9-tetrahidrocanabinol), o ingrediente ativo da maconha, revertem o envelhecimento cerebral de ratos idosos, melhorando sua atividade cognitiva. É isso que diz o estudo publicado, recentemente, na revista Nature Medicine. Nosso corpo possui o chamado sistema endocanabinoide, que é composto de receptores, todos os mamíferos possuem e ele está localizado no cérebro e em todo o sistema nervoso periférico. O sistema endocanabinoide está envolvido em muitas funções biológicas, como respostas ao stress, sensação de dor, apetite, humor e aprendizado. Esse sistema foi descoberto em 1988. Um dos receptores endocanabinoides, produzido pelo nosso …

Leia Mais »
Crédito: Agência Espacial Soviética/reprodução

O verdadeiro destino de Laika

Mais uma vez, como ocorria historicamente nos últimos 50 anos (contagem baseada no padrão temporal do planetinha cujos habitantes chamam de Terra), a moção dividia ferozmente as posições dos participantes do Conselho das Espécies de Cabeça Feita (CoEsCaFe) já reunidos, via teleconferência, na 5ª Deliberação Decenal sobre a Questão T (é, “T” de Terra, o que justificava adotarem o padrão temporal daquele planeta tão controverso). Só que, na verdade, ninguém duvidava sobre para qual decisão a balança penderia quando finalmente ingressasse na comunicação os conselheiros do planeta Caxotturus — que sempre demoravam um pouco mais para se manifestar, talvez pela lentidão natural da conexão, face ao distanciamento do planeta do centro de deliberações; ou porque apenas eram soberbamente folgados, mesmo. E bota soberba: com seus corpos peludos, porém esguios, deslizando eretos, com as mandíbulas erguidas e caudas eriçadas, eles foram …

Leia Mais »
Ilustração: Well, do estúdio Padoca

Insetos se alimentando das folhas de uma árvore interferem na formação de nuvens

Tudo está conectado. Eu, como uma criança que cresceu num sítio cercado pela natureza, aprendi logo cedo sobre essa importante lei dessa natureza. Num dia normal, nos meus 9 anos, saí para pescar com meu pai; era daqueles dias quentes de céu azul com poucas nuvens, e um sol de 40 graus torrando nossos miolos. No meio da pescaria tirei minha camisa empapada pelo suor e a joguei num canto. Meu pai, talvez na intenção de justificar aquele calor, me disse: “Sabia que você faz parte do céu?”. “Claro que sim”, respondi entediado, “O padre Zé me falou que, quando eu morrer, eu vou pra lá”. “Não é isso que eu quero dizer. Tá vendo aquelas nuvens lá em cima? Você sabia que uma parte de você tá lá?” Olhei pra cima e não entendi o que ele estava querendo …

Leia Mais »
Golshifteh Farahani faz Laura, a esposa de Paterson e sua única leitora e incentivadora, também uma jovem com sonhos banais

Em “Paterson”, Jim Jarmush prova que tudo na vida pode ser poesia

No ir e vir de uma vida sem grandes acontecimentos, um motorista de ônibus de uma pequena e pacata cidade de New Jersey cria poemas em “Paterson”, novo e carinhoso filme de Jim Jarmush. Qualquer coisa serve de motivo para seus escritos, até mesmo o rótulo de uma caixa de fósforos. Curiosamente, seu nome é Paterson, o mesmo da cidade onde nasceu, e também a terra-natal de um de seus poetas favoritos, William Carlos Williams (1883-1963). Paterson acorda todos os dias mais ou menos na mesma hora, sem despertador, abraça a mulher, come sucrilhos, caminha até o trabalho, roda com o ônibus, volta para casa, sai para passear com o cachorro e toma uma cerveja no bar antes de ir dormir. Parece uma vida banal, e talvez seja, a não ser pelo fato de que ele é um poeta. Jim …

Leia Mais »
Jaqueline_04

A coluna vertical da palavra – outro rastro

  do antes e durante – escuta que se escreve esperava intrigada pela pergunta. o que é? os olhos coreografavam movimentos lentos quando pesava as palavras. qual cardápio invisível, sem pauta, in-aberto, ela abrira? hipnotizada por si mesma, parou com os olhos na parede, piscou e com uma certeza, que só a alegria conhece, pronunciou o que encontrara. o prazer de nomear e depois… há momentos de puro-estar-ali   ela – 9 anos – por que foi importante para você aprender a escrever? – para escrever minhas coisas favoritas, mensagens, textos, livros e as letras que formam as sílabas que formam as palavras. começa de um risco e vai formando um desenho e é isso. – você acha importante saber pontuação? – sim, sem a pontuação não iria ter começo, não iria ter pausa e não haveria fim. – o …

Leia Mais »