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Palavras perigosas. Quase.

Aos sábados, eles sempre iam à padaria. Eles comiam e bebiam de tudo: omelete, pão quente com manteiga, pão de queijo, rocambole, suco de laranja, vitamina, café com leite… Mas a certa altura da comilança, sem mais nem menos, Gumercindo falou: “Mas Fausto é mentiroso”. Fausto não estava lá, logicamente. Gumercindo logo explicou que depois de certa idade, os quase velhos, como Fausto, eram acostumados a contar muitas histórias. Quase todas verídicas. Quase. Uma parte delas era engraçada. Só que vinham de outros amigos, normalmente bons contadores de história. Mas que não sabiam que suas histórias estavam sendo repetidas pelo sujeito como se fosse dele. Falsidade pura! Os olhares caminhavam pela mesa. Na maior parte deles o sentimento era de desconforto. “Fausto iria saber de tudo”, confidenciava um deles. Uns poucos aprovavam a observação e encontraram enfim quem falasse por …

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Moda desenvolvida a partir de um processo chamado “upcycling”, que gera zero em resíduos: Coleção de Vicente Perrotta, de Campinas    Foto: Divulgação

Para quando a sua ficha cair

A ficha caiu quando fomos visitar uma estamparia têxtil a convite de um amigo. A ideia era conhecer o lugar e ver algumas sobrinhas de tecidos que a fábrica estava se desfazendo. E lá fomos nós. Naquela manhã, a expectativa era de que iríamos encontrar alguns restinhos de tecido com estampas comuns. Ao contrário disso, encontramos uma pilha grande de tecidos variados com estampas lindas e originais que estava no canto de uma sala. Alguns tecidos eram exclusivos das marcas compradoras e não poderiam ser revendidos, mas outros – a maioria – poderiam ser vendidos em lote, por peso a um custo bem leve. É preciso voltar um pouco para entender o que se passou ali. Na ocasião, estávamos pensando em produzir alguns produtos com estampas exclusivas. Mas, como não tínhamos escala, e por limitações do processo de estamparia, o …

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O filme "Chocolate" conta a história de Rafael Padilha, o Chocolat, que nasceu em Cuba em 1868, foi vendido como escravo, fugiu e depois veio a se tornar o primeiro palhaço negro da história da França, interpretado por Omar Sy       Fotos: Divulgação

Chocolat, o primeiro palhaço negro da França; mas não só

O filme “Chocolate”, com o ator Omar Sy, conta a história do primeiro palhaço negro da história da França. Mas não só. O roteiro expõe o racismo que acompanha a indústria do entretenimento desde sempre. (Não por acaso, vale lembrar que, nesta temporada, o Oscar ignorou os negros em suas indicações aos melhores do ano, o que provocou barulho e protestos.) Chocolat, o palhaço, é saco de pancadas no centro do picadeiro e sua cor serve de mote para as gags. Mas o artista vai além. O filme, que foi um dos grandes destaques do Festival Varilux de Cinema Francês e agora entra em cartaz no circuito comercial, faz um bom apanhado da história real de Rafael Padilha, um ex-escravo que nasceu em Cuba no ano de 1868. Ainda criança foi vendido, mas fugiu por causa dos maus-tratos e, sem …

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Buraco da fechadura

Até o padre da cidade veio dar uma espiada. O guindaste se estrebuchava em manobras e nada. Adalberto, de braços cruzados, permanecia na calçada em frente da casa, enquanto Alziza entrava e saía aflita, temendo o embaraço da máquina e os braços cruzados do marido. A piscina não queria entrar na casa nem a pau. Taquatinga torcia pelo sucesso de sua primeira piscina. Taquatinga era uma boa cidade para se viver. A cidade dormia e acordava cedo. Trabalhava, se alimentava, conversava na calçada, futricava na praça, rezava e colhia cana e laranja, produtos que lhe permitiram durante anos pintar as casas e conservar a igreja matriz. Esta rotina se arrastou até o dia em que Adalberto voltou à cidade com a mulher e a sogra, depois de duas décadas em que Adalberto viveu de desacertos na capital paulista. Adalberto, agora …

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Créditos: Reprodução/Internet. Cena do filme Nós ou nada em Paris

“Nós ou Nada em Paris”, a arte de rir pra não chorar

Fazer “rir pra não chorar” é um talento. Em “Nós ou Nada em Paris” (Nous Trois ou Rien), as tragédias recentes no Irã ganham um ar de comédia, ou de tragicomédia, na direção do estreante rapper e comediante franco-iraniano Kheiron, revelado ao público francês no programa “Jamel Comedy Club”. A fórmula já foi usada outras vezes, como em “A Vida é Bela”, que extraiu risos em uma história passada em um campo de concentração, por exemplo. Mas Kheiron consegue algo mais ao retratar a história verdadeira de sua família, ambientada em um recente período turbulento de mudanças políticas extremas no Irã. Kheiron interpreta o próprio pai ao mostrar a trajetória de seus pais, Hibat e Fereshteh Tabib (Leila Bekhti, de “O Profeta”), que foram obrigados a pedir asilo político na França após militância nos grupos de oposição tanto ao regime …

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