O anúncio da lista dos indicados ao Oscar é sempre um acontecimento para quem é fã de cinema e nesta temporada havia um suspense a mais, já que há um movimento pelo boicote a filmes produzidos, escritos e/ou protagonizados por homens da indústria pegos com as calças na mão na avalanche de denúncias de assédio sexual digna dos melhores filmes-catástrofes de Hollywood. Conclusão: tiraram James Franco da festa. Mas não só. O Oscar 2018 mostrou que aprendeu a lição após acusações de discriminação em edições anteriores (apesar de ter esnobado a “Mulher-Maravilha” de sua lista de indicados). Outras “mulheres-maravilhas”, porém, garantiram seu lugar, como a jovem e talentosa Greta Gerwig, que vai concorrer nas categorias melhor direção e melhor roteiro original por seu “Lady Bird”, que recebeu cinco indicações. Também indicaram pela primeira vez uma mulher na categoria melhor fotografia, …
Leia Mais »Como mudar a história a partir de um retrato de James Dean
Hoje qualquer um tira uma foto com seu telefone, as revistas em papel estão desaparecendo e o cinema luta para sobreviver nas novas plataformas digitais. Mesmo assim, mitos permanecem. Mesmo que forjados por fotografias que atravessam as décadas intocáveis no seu preto e branco poético, impressas em publicações que um dia ajudaram a entender o mundo. Um deles é James Dean, o eterno “rebelde sem causa”, que tem parte de sua breve trajetória contada em “Life – Um Retrato de James Dean”. A prestigiada revista “Life” publicou, dias antes da estreia de “Vidas Amargas”, adaptação de Elia Kazan para o romance de John Steinbeck, em 1955, um ensaio fotográfico daquele que viria a ser um dos grandes símbolos de uma época. O filme conta a história dessas fotos e da batalha do então novato fotógrafo Dennis Stock para conseguir tirá-las. …
Leia Mais »Mais uma aula do bom cinema argentino
Há tempos que cinema argentino é sinônimo de bom cinema. A cada filme que chega às telas, fica cada vez mais evidente a capacidade dos cineastas “hermanos” de enxergar boas histórias no trivial, sem necessidade de firulas, efeitos ou apelação barata. Um dos diretores que ajudou a formar esse selo de qualidade é Daniel Burman, dos belos e tocantes “O Abraço Partido” (2004) e “Dois Irmãos” (2010), entre outros. Conferi seu filme mais recente, que no Brasil leva o nome de “O Décimo Homem”. No original, o título é “El Rey de Once” (sim, é difícil entender o critério que se usa para mudar os títulos dos filmes…). Once é o nome do bairro, majoritariamente judeu, em Buenos Aires, onde o protagonista cresceu. Ariel, interpretado por Alan Sabbagh, que está ótimo no papel, é hoje um economista que vive em Nova York. Com viagem marcada para visitar o …
Leia Mais »Maravilhoso (mesmo!) Boccaccio
Cores estonteantes enchem a telona em “Maraviglioso Boccaccio”, filme dos irmãos italianos Paolo e Vittorio Taviani que tive o prazer de conferir em sessão para jornalistas. Digo prazer porque o “maravilhoso” do título não é exagero. O filme, que foi exibido no Festival do Rio do ano passado e chega agora ao circuito, é livremente baseado em Decamerão e se equilibra entre a vida e a morte enquanto escancara as belezas da Toscana e, por que não?, da própria Itália e de seu povo. Vale lembrar que Decamerão é uma coleção que reúne cem narrativas escritas por Giovanni Boccaccio entre 1348 e 1353. Os textos são considerados um marco da literatura por seu realismo, numa época em que a religiosidade ditava o encadeamento das palavras. Os irmãos Taviani escolheram cinco histórias para o filme, ambientado na Florença do século 14, quando a peste negra dizimava a população. Com um …
Leia Mais »Quem não tem van vive na areia
As primeiras horas da manhã revelam o que o meio-dia esconde nas areias de Copacabana. Sem guarda-sol, barracas e cadeiras, o cenário reúne dezenas de sem-teto que fazem da praia a sua moradia. Uma senhora, desconfiada, trata de proteger seus pertences enquanto os primeiros caminhantes cruzam o seu “quintal”. Na noite anterior conferi o filme “A Senhora da Van”, e é impossível não fazer associações. No longa, “baseado em fatos mais ou menos reais”, como é informado logo no início, acompanha-se o drama da senhora Sheperd, interpretada com a mesma maestria de sempre pela veterana atriz britânica Maggie Smith. A senhora do título é uma sem-teto, ou melhor, ela tem um teto, uma van, que estaciona em trechos aqui e ali no bairro de Camden Town, na Londres dos anos 1970. Esqueça toda a pompa, a riqueza e o luxo …
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