“Ah, se fosse no meu tempo…” Torci o pescoço para ouvir o restante da frase, já adivinhando, mas, qual não foi a minha surpresa quando a idosa ao meu lado seguiu no caminho oposto: “Se fosse no meu tempo elas iam sofrer muito e talvez essa história não terminasse bem, mesmo que fosse amor verdadeiro”. As garotas na nossa frente, de mãos dadas, exalavam amor adolescente. Nem aí para o resto do mundo, seguiam seu caminho no calçadão de Copacabana.
É certo que o amor entre garotas tem povoado o cinema recente, como o energético “Azul é a Cor Mais Quente” e o gélido, porém comovente, “Carol”. Até a novela da Globo já mostrou. Mas uma nova história, que acaba de chegar à telona, carrega as tintas da vida real. E faz pensar, e faz chorar.
“Amor por Direito” (“Freeheld”, no título original), com direção de Peter Sollet, é inspirado na história do casal Laurel Hesten e Stacie Andree. O longa é baseado em um documentário de mesmo nome, lançado em 2007 e vencedor do Oscar um ano depois.
Laurel, brilhantemente vivida por Julianne Moore, e Stacie, na pele de Elle Paige, se tornaram símbolo da luta pela igualdade de direitos para casais do mesmo sexo nos Estados Unidos. Laurel era uma policial condecorada, dedicada, que sempre escondeu sua homossexualidade. O trecho inicial do filme, aliás, é focado em seu brilhante trabalho na polícia e sua capacidade de enfrentar as situações mais perigosas.
Quando conhece Stacie, 18 anos mais nova, resolve encarar um namoro, uma espécie de “brincar de casinha”. Mas o relacionamento fica sério, se torna uma união estável, embora a policial sempre se esconda em sua opção, ou, como dizem por aí, não sai do armário. Tudo vai bem, apesar da vida escondida.
Até que, um dia, Laurel descobre que tem um câncer em estado avançado, vai morrer logo, e começa a lutar para que a companheira receba sua pensão. A princípio, os donos do poder local negam sua (justa) reivindicação. A policial exemplar, com 23 anos de carreira, entre quimioterapias e muito sofrimento, não tem muitas alternativas. Nem tempo. Sai do armário em rede nacional. Vai parar nas capas dos jornais, nos noticiários da TV, e provoca todo mundo a pensar.
No meio do processo conhece um ativista judeu gay vivido com muito afinco pelo comediante Steve Carrel, que traz um pouco de leveza ao filme, uma espécie de “Love Story” dos novos tempos, em que é impossível não molhar os olhos. Nos créditos finais, as imagens verdadeiras do casal Laurel e Stacie enchem a telona. Duas garotas apaixonadas, separadas pela doença implacável, e não pelo conservadorismo.
A luta de Laurel Hesten acabou chamando atenção da mídia em um tempo que pedia mudanças nas leis. E elas vieram. O final da história todos sabemos: em junho do ano passado, a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou o casamento gay, em uma decisão histórica que garantiu igualdade de direitos a todos os casais.
Trailer:
Parabéns pelo texto, sensível e tocante como o filme.
Tenho acompanhado sua coluna. Parabéns!
Obrigada Carlos!