Minha avó dizia que galinhas são muito boas pra limpar o quintal.
“Elas comem de tudo, comem barata, comem aranha, comem escorpião e comem até cobra”. “Se tiver galinha no quintal nem me preocupo em achar um escorpião dentro da minha botina”. “Elas não deixam um nem pra remédio, são bicho abençoado”, dizia ela enquanto torcia o pescoço de um frango que seria feito na janta daquele dia.
Galinhas são bem competentes para controlar pragas em quintais. Elas comem insetos e ajudam a manter um controle sobre eles. Mas além de devoradoras elas também têm desempenhando um importante papel no combate ao mosquito transmissor da malária.
Pode parecer um pouco estranho mas é exatamente isso que cientistas suecos descobriram e que foi publicada em julho do ano passado na revista científica “Malaria Journal”.
A malária é uma das doenças negligenciáveis que mais afetam a vida das pessoas, principalmente na África subsaariana. O Anofeles (mosquito agente transmissor da malária) se alimenta do sangue das pessoas, mas também de animais, principalmente de vacas, ovelhas e cabras. Curiosamente não se alimenta do sangue de galinhas e o motivo não é porque elas comem os mosquitos. É algo bem mais interessante.
Inicialmente os pesquisadores colocaram armadilhas para a captura de mosquitos nas casas em regiões atacadas pela malária, e ali ficavam voluntários para dormir. Os voluntários foram divididos em dois grupos. Em um grupo eles dormiam ao lado das armadilhas com as galinhas e em outro grupo, sem elas.
Após uma noite tranquila(?!) de sono, os pesquisadores contaram o número de mosquitos capturados pelas armadilhas. Incrivelmente, naquelas onde os voluntários dormiam ao lado das galinhas foram capturados 80% menos mosquitos, em comparação com as armadilhas onde elas não estavam. De alguma maneira as galinhas estavam repelindo os mosquitos.
O objetivo deste trabalho não foi o de propor a utilização de galinhas como repelentes. Já pensou ter que levar para dentro de seu quarto uma família inteira de frangos, galinhas e galos? O objetivo aqui foi outro.
Todos os seres vivos têm cheiros. Estes cheiros nada mais são do que compostos químicos que são liberados. O cachorro reconhece o dono pelo cheiro. Estes compostos quando chegam até outros seres causam alteração no seu comportamento.
Algo que é bastante comum: uma abelha, quando se sente ameaçada, libera um cheiro, aqui chamado de feromônio, que quando chegar até as outras companheiras fará com que estas venham ao seu socorro. Quem nunca levou umas ferroadas quando se meteu com elas que o diga!
No caso aqui com as galinhas, a situação é bem parecida. Elas produzem pela pele (ou pelas penas) certos compostos químicos que de alguma maneira estão repelindo os mosquitos. O que os cientistas querem é descobrir quais são estes compostos e, após identificá-los, produzi-los e utilizá-los como novos repelentes ou métodos mais seguros de controle.
Cientistas fazem isso há anos e utilizam das mais diversas ferramentas para isso. Eu, por exemplo, pesquiso os compostos produzidos por cachorros e vacas para entender porque algumas raças são mais atacadas por carrapatos do que outras.
Diante dos surtos da dengue, da chikungunya, do zika e agora da febre amarela, será que nossas amigas também não poderiam contribuir para o controle do mosquito Aedes? Muito provavelmente sim.
Ainda não sei se vou falar com minha avó sobre este trabalho. Tenho certeza que ela vai fazer um poleiro no seu quarto e dormir com as suas galinhas. “Muito pernilongo aqui, essas praga não me deixa dormir” dirá ela.
Quem quiser saber mais informações sobre este trabalho, a revista disponibiliza gratuitamente seus artigos (em inglês)
“Chicken volatiles repel host-seeking malaria mosquitoes”
http://malariajournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12936-016-1386-3
Muy interesante y muy bien contado. Así la ciencia llegará a todo el mundo. Un gran proyecto!
Parabens
Parabéns André!
Aproximar a Ciência do cotidiano é um belíssimo caminho.
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abraço