Os terços rezados nas casas dos sítios eram um evento social muito importante para nós, moleques no auge de nossos 11 ou 12 anos de idade. Eles eram rezados, na maioria das vezes, pela Dona Nega do Gerardin, “A melhor rezadeira”, diziam as pessoas. Nunca soube muito bem a ordem dos sítios onde eles seriam realizados, mas me lembro de que uma vez ele foi feito no sítio da minha vó, onde morávamos.
Minha mãe, logo cedo, varreu todo o quintal, meu pai buscou lenha para acender o fogão, onde seriam preparados os chás e achocolatados (que eram servidos junto com outras guloseimas logo após o final da ladainha de Nossa Senhora), meus irmãos buscavam as tábuas para fazer os bancos, e cada um na sua função deixava tudo pronto.
A estrela principal era o altar: rosas feitas de papel crepon, velas, e um Santo Antônio que teve, por duas vezes, a cabeça colada completava e dava um ar sagrado a tudo aquilo.
(Na primeira vez em que a cabeça foi colada, ela caiu durante uma novena, e ficou quicando no chão até desaparecer por completo).
Eu e a molecada queríamos mesmo era que a D. Nega terminasse logo as orações, pois éramos sempre “esganados” e, no mais, queríamos voltar às nossas brincadeiras.
A brincadeira favorita, e que fazíamos ficar bem maliciosa, era o “telefone sem fio”, quando nós moleques dizíamos as palavras mais feias possíveis só para ver se elas seriam repetidas e ditas pelas meninas. Era engraçado, pois, muitas vezes, as palavras ditas ao final eram como “Bochecha”. Realmente as meninas estavam roubando nesse jogo!
A brincadeira do “telefone sem fio” mostra se uma informação será mantida e repassada exatamente igual entre as pessoas.
Pode parecer loucura, e lhe dou razão de pensar isso, mas plantas também jogam esse jogo, e o objetivo não é nem de longe para brincadeiras.
Será então que uma planta poderia passar uma informação para outra planta, como na brincadeira do telefone sem fio? Incrivelmente, a resposta é sim, e é isso que pesquisadores vêm mostrando há anos: plantas enviam sinais umas às outras pelas raízes e pelas folhas.
Elas não podem se locomover, ficam no mesmo lugar em que germinaram, e precisam se adaptar ao lugar em que estão se não quiserem morrer.
Vamos falar aqui em estresse. Uma planta pode ser estressada por diversas razões: falta de água, mudanças na temperatura (muito calor ou muito frio), ataques de insetos, enfim, tudo isso são fatores que prejudicam a “saúde” de uma planta, e ela vai ter de gastar energia para tentar solucionar esse problema, pois, do contrário, ela irá definhar até morrer.
Um experimento bem bacana consistiu em agrupar, lado a lado, vasos, imaginem uma fila de vasos, lado a lado, cheios de água. Uma planta era colocada entre dois vasos de modo que suas raizes eram divididas para cada vaso, uma metade ficava num vaso e a outra metade no outro vaso, e assim foi feito com diversas outras (olhe no desenho para ficar mais fácil de se entender)
Todas as plantas então estavam separadas entre si pelos vasos, mas unidas, duas a duas, pelas raízes.
No primeiro vaso, e somente nele, os pesquisadores adicionaram uma espécie de veneno que fez com que a primeira planta fechasse seus estômatos, que, aqui, chamaremos de poros. A coisa funcionou da seguinte maneira: a primeira planta absorveu, pelas suas raízes, o veneno que estava no primeiro vaso, ela percebeu que aquilo fazia mal para ela e fechou seus poros, mas, antes, ela avisou a sua planta vizinha do que estava ocorrendo; ela fez isso enviando um sinal pela raiz; a planta vizinha recebeu então a mensagem pela raiz e também fechou seus poros, mas, antes, ela também enviou a mesma mensagem para sua outra vizinha, que fez o mesmo, assim, todas, sucessivamente, enviavam a notícia a sua vizinha e todas fecharam seus poros.
A grande pergunta aqui é: por que elas avisaram umas às outras? Por que uma planta envenenada avisa a outra sobre seu martírio? Não é melhor morrer calada? A resposta não é tão simples de se responder, mas envolve o que, para nós, chamamos de solidariedade. Se eu estou sofrendo, minha vizinha provavelmente também irá sofrer e eu preciso avisar ela para se cuidar. Tudo isso é feito para, essencialmente, preservar a espécie e seus DNA’s.
Apesar do termo “comunicação” ser cientificamente correto, em plantas, é importante dizer que comunicação não envolve somente “palavras” como nós as usamos. Comunicar não é somente “falar”. As plantas se comunicam entre si, emitindo sinais químicos; esses compostos químicos são das mais diversas classes e são liberados pelas raízes, folhas, frutos e flores. Muitos desses compostos foram identificados, e alguns já são, inclusive, usados comercialmente. O departamento, onde eu trabalho, estuda as biointerações da natureza, e biointeração é o estudo das mais diversas maneiras com que plantas e animais interagem para a sua sobrevivência.
Quem quiser saber mais sobre comunicação de plantas é só deixar uma mensagem aqui que eu responderei com muito prazer. Deixo um vídeo sobre uma palestra, feito pelo professor Ariel Novoplansky da Universidade de Israel, no qual ele comenta sobre isso. A palestra está em inglês, mas tem legenda disponível em português; assistam e se maravilhem com isso.
Maravilhoso essa constatação, provada cientificamente…temos que ser e viver como a natureza, a presença Divina em cada essência que não foi criaçao do homem.
Assim como ela, acredito plenamente que também absorvemos e emitimos vibrações, energias uns dos outros, assim como sentimos a atmosfera fluidica nos ambientes onde adentramos.
É maravilhoso sentir a grandeza de uma Inteligência Superior.
Adoro suas matérias!!!
Ola muito interessante sua pesquisa, parabéns, Andre a biointeração pode ser trabalhada no campo da antropologia em especifico na área da saúde em racionalidade médicas?
Acredito nessa comunicação entre plantas. Interessantes elas serem solidárias. A natureza é perfeita,sofre agressões e se recupera. Vejo plantas que são cortadas,carpidas,e logo quando olho novamente,já vem ela brotando.Acho isso um espetáculo. Maravilhosa experiência.
Obrigado Aurora, sim temos exemplos lindíssimos de como a natureza reage diante de problemas.
Cuánto tenemos que aprender de las plantas. Esa solidaridad que los humanis perdemos a veces!!
Ungran relato!