O dia 12 de novembro de 1985 foi uma terça-feira de guerra em Campinas. Uma greve no transporte coletivo virava a cidade de cabeça pra baixo, numa época em que greves ainda eram episódios heroicos e os sindicalistas não eram tão suscetíveis a negociatas obscuras como hoje. Tudo muito emocionante, mas a verdade é que sobrava pros repórteres: piquetes aqui, prisões ali, protestos acolá, congestionamentos no trânsito, sempre.
Foi no meio desse turbilhão que nasceu meu filho. Prematuro. Eu na rua. A surpresa me atingiu quando liguei pra redação do saudoso Diário do Povo, para consolidar a pauta. De orelhão. — celular? Rádio? Não, o futuro ainda não tinha chegado.
Alguém lá na redação tinha recebido a notícia do nascimento antes de mim. Voei pra maternidade. Depois de atropelar uns três funcionários e invadir um monte de áreas restritas, cheguei à UTI neonatal.
Mal tive tempo de curtir o momento. A telefonista da maternidade trouxe o recado: a chefia de reportagem queria porque queria o balanço do dia de greve. Notebook? E-mail? WhatsApp? O futuro ainda tardava. Tive que “passar o texto” pelo PABX do hospital. Nem sei como consegui articular as informações. Mas ao fim de tudo, me dei conta: o futuro estava ali, sim; por enquanto frágil, num bercinho cheio de aparelhos.
Mas, logo forte, um menino, meu menino, forte, posto que nascido num tempo de guerra. (*)
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(*) Que está prestes a completar 32 anos e é acadêmico de música (quando conversamos, me dá saudáveis nós na cabeça e no coração).