Resolvemos então partir para Monte Verde, a cidade escondida nas montanhas de Minas Gerais. Este mapa que a gente vê hoje na internet não existia. Nem a internet existia. E o telefone celular? Ainda dormia. Enfim, a vida era outra, e os mineiros deixavam o vento carregar as palavras obedecendo ao ritmo do vento e da sua fala mansa.
Formávamos um grupo de 14 jovens, homens e mulheres, adolescentes na faixa dos 16 anos. Além de roupas, principalmente para o tempo frio que era próprio de Monte Verde, levávamos as barracas para o acampamento, que já sabíamos onde seria, um lugar na beira da montanha que chega lá no alto.
Este era o programa para nossas férias de julho. Na estrada mais movimentada, como a carona era mais provável, dividimo-nos em sete grupos de dois. E colocamos o polegar para trabalhar. Depois da estrada capenga, a carona se tornou ainda mais rara. Mas vinha. E chegamos inteiros em Monte Verde. Agora era montar as barracas, na boca da grande montanha.
Na montagem da barraca é que fiquei sabendo pela Lia, minha namorada, que não precisaríamos mais nos preocupar com moradia. Ela tinha alugado um chalé para que eu e ela ficássemos. E tinha uma lareira para esquentar. Você quer ou não quer? Bem… Quis.
No dia seguinte, bem cedo, depois do café da manhã, resolvemos colocar a vida para andar. Como o tempo estava ensolarado, partimos de bermuda, camiseta e bota. Só mais tarde viria o frio.
No meio do caminho, entre pequenos riachos que corriam e muito mato, o Véio Moretti entendeu que estava monótona demais a caminhada e resolveu tirar o sinal vermelho do trajeto. “Quem for homem que me siga!”, e mudou a rota. Metade da turma o seguiu. A outra metade foi pelo caminho marcado na estrada.
Esquecemo-nos do grupo do Véio e continuamos a subida. Quando estávamos quase perto do pico, notamos que a caminhada não era para amador. O cansaço batia na alma. Sentamos nos barrancos. Olhamos para o topo. Ainda restava a parte final. Mas estava chegando.
Assim que deram três horas de andança, olhamos mais uma vez. Estudamos por onde seria a subida final. Ajeitamos as cordas caso necessário. Mas nem foi preciso. Agarramos numas pedras e rolamos lá pra cima. Era lindo.
Depois de certo tempo de observação, começamos a descer. A volta seria mais rápida. Em duas horas estávamos de volta. Tomamos um banho e fizemos a comida. Comemos e ficamos esperando pela turma do Véio. Quase todo mundo tirou uma soneca.
Quando despertamos, a primeira coisa que fizemos foi procurar pelos nossos companheiros. Nada ainda e já começava a escurecer. O que o Véio estava inventando? Logo percebemos que já estava escuro. E depois mais escuro e mais frio. Maldito Véio.
Quando a noite avançou e estava muito frio, pedimos ajuda para um rapaz do lugar. E ele veio nos ajudar e trouxe uma luminária de bambu. Começamos a subir novamente. E a gritar o nome das pessoas do grupo sumido. Como não encontramos ninguém, descemos e dormimos.
Acordamos e a primeira coisa que fizemos foi procurar o pessoal sumido. Parecia que não tínhamos mais nada pra fazer. Não era possível! Nada! Tudo parecia zombar da nossa cabeça. Quando a paciência já tinha ido embora, e já havia passado do meio-dia, escutei a voz do Véio. Em seguida a do restante do grupo. Depois a voz dos pais que chegavam de carro em socorro, alertados principalmente pelas filhas, que usaram o serviço de telefonia da cidade. Todos do grupo estavam muito sujos e passaram a noite abraçados ao redor de uma fogueira, forma de afugentar o frio.
Na viagem de volta, o Véio bem que tentou se explicar, mas nenhum pai falou com ele. Foi um tédio absoluto.
E depois que os “estranhos” deixaram o carro, as mães começaram a falar, a falar, a falar…
Dizem que Almodovar, o cineasta espanhol, teria se inspirado naquele episódio para fazer “Mulheres à beira de um ataque de nervos”. Será?
E as férias de um mês se transformaram em férias de três dias. Era o fim.
Quantas vezes ouvi essa história! Mas você a conta de um modo muito especial!
Saudade
Maricota
Maricota, querida. Que bom saber de você. Saudade
Muito bom texto de meu querido tio Cavalo. Grande beijo
Cid, queridão. Que bom conversar com meu grande sobrinho. Beijão.
Grande Cacalo! Adorei sua cronica! Cheia de misterios! Esse Véio é phoda! Rsrs grande abraço!
Salve, Re. Adorei o contato com você. Abração
Grande escrevinhador e amigo Cacalo nos remete a outrora bucólica Monte Verde de tantas jornadas e recorda um personagem marcante que foi Véio Moretti.Viajei nas suas linhas meu amigo,como já tinha feito com tantos
companheiros .abraço saudoso.
Salve,Paulo Lima. Lá seguem nossas histórias. Saudades. Abração