Enfim, a comédia brasileira consegue mostrar alguma criatividade e rir de si mesma em “TOC – Transtornada, Obsessiva, Compulsiva”, filme estrelado por Tatá Werneck que entra em cartaz nesta quinta-feira (2 de fevereiro). Um pouco de Monty Phyton, mais auto-ironia, elenco bem escolhido, trilha sonora divertida e diálogos inteligentes levam o filme a um novo patamar entre as comédias nacionais. “TOC” não é o riso escrachado, escatológico e fácil que os brasileiros se acostumaram a ver nos cinemas – e que encheram os bolsos dos produtores. O filme é um pouco mais cabeça e, por isso, terá que achar e convencer seu público, aquele que amadureceu vendo “Seinfeld”, por exemplo.
“Monty Phyton é nossa religião”, diz o diretor Teodoro Poppovic, que assina o comando do filme com Paulinho Caruso, filho do cartunista Paulo Caruso, na coletiva de imprensa de “TOC”, no Rio de Janeiro, acompanhada pela Agência Social de Notícias. Na entrevista, além dos diretores, estavam Tatá Werneck, Daniel Furlan e Luis Lobianco, que integram o elenco, e a produtora Bianca Villar.
Logo nas primeiras cenas é possível reconhecer o cenário, o novo terminal do Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Perguntei a Bianca Villar sobre o set e a produtora contou que filmar em aeroporto é sempre muito difícil por causa da logística. “Viracopos entrou como parceiro e usamos o novo terminal, que ainda não havia sido inagurado”, afirmou. “Na verdade, fizemos o filme para vocês, de Campinas”, interrompeu Tatá, que dominou a entrevista coletiva com seu peculiar bom humor.
“TOC” conta a história de Kika K., uma atriz facilmente identificável no mundo das celebridades de hoje. Estrela da novela, namora o galã Caco Astro (Bruno Gagliasso), sai em todas as capas de revistas, tem uma empresária que domina sua vida (Vera Holtz), um fã que a persegue (Lobianco) e nutre uma extrema rivalidade pela atriz Ingrid Guimarães (ela mesma), entre outras situações. E não é feliz.
Há um “filme dentro do filme”, no qual Kika K., em um mundo pós-apocalíptico, com um quê de Mad Max, vive uma super-heroína. “Sempre gostei de super-heróis, se eu pudesse usava capa, pensei em vir para a entrevista usando uma capa, inclusive”, brinca Tatá. O set é numa fábrica de azulejos desativada em Osasco, conta Poppovic, e o visual ficou incrível, com a heroína dando saltos e flechadas em uma roupa de couro preta.
No mundo real, Kika K. vai lançar um livro que não escreveu, com dicas para encontrar a felicidade. Na noite de autógrafos o verdadeiro autor do livro, o chamado “ghost writer”, aparece e deixa para ela um enigma: “Felicidade é…”, com um espaço para cinco letras, como naquela brincadeira de forca. Kika K. não consegue parar de pensar no desafio e resolve ir atrás do escritor. Consegue a ajuda de um funcionário da livraria, vivido por Daniel Furlan, comediante da nova geração, que vai se transformar no par romântico da protagonista, acredite se puder.
O escritor fantasma mora em Osasco e, em uma das brilhantes sequências do filme, o casal enfrenta o congestionamento até lá ouvindo Cidade Negra, fazendo fumaça e discorrendo sobre a qualidade, ou a falta de, das comédias brasileiras. Ao chegar descobrem que a brincadeira de forca não era somente uma brincadeira. Pois é…
Tatá diz que se controlou para não improvisar, mas houve cenas, como a do encontro com Ingrid Guimarães, quando elas duelam pela vaga de mocinha da nova novela, que duraram uma hora, apesar dos poucos minutos mostrados. Na sequência, mais uma vez, vem a auto-ironia, quando Ingrid conta que vai fazer “filme sério, com aquele pessoal do Recife”. Logo ela, uma das recordistas de bilheteria das comédias nacionais, com seus “De pernas pro Ar 1, 2 e 3 !)”.
“TOC” é diversão inteligente, mas é preciso prestar atenção nas sutilezas. E, para quem se aventurar, fica a dica: espere até o final dos créditos para descobrir a resposta para o enigma “Felicidade é…”, com cinco letras.
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