Quem não viu não acredita, mas uma horta de cogumelos irrompeu do carpete de uma quitinete onde morei. Atrás de uma estante, numa faixa que costumava acumular resíduos dos únicos líquidos que corriam naquela morada desvairada: cerveja, cerveja, cerveja… e só um tiquinho de detergente, vez ou outra. Eram apenas esses os adubos possíveis.
E os bichinhos eram uns bitelos luzidios, a parte interna do “chapéu” tingida de um púrpura infernal. Quando a notícia se espalhou, teve o mesmo efeito dos relatos de aparições de rostos de santas nas vidraças dos lares piedosos. A quiti virou meca de peregrinação da malucaiada. A assembleia insana permanente berrava: “Vamos fazer chá!” “Não, mistura com vinho!” “Tem que ser comido ao natural!”
Foi quando a moça que puxava meu freio de mão naqueles tempos chamou a galera à razão: “Tão doidos? Vai saber pra que mundo tenebroso cogumelos que nascem em carpete os levariam?” Tempos depois, ao admitir para um amigo que já não aguentava mais as mazelas da atualidade, ouvi dele: “Não falei, na época? ‘Cê devia ter mandado os trecos pra dentro!”
É, amigo, se arrependimento matasse…