Artigos Recentes

Ilustração: Mateus S. Nogarol

As irmãs da kombi, suas estrelinhas e açúcares em meteoros

Umas das coisas que eu gostava bastante na minha época de escolinha era a visita das freiras. Elas apareciam na porta da sala de aula quase sempre sem aviso prévio, diziam que queriam falar algumas palavras para se assegurar de que suas estrelinhas estavam seguindo corretamente os santos caminhos propostos. Nunca sabíamos muito bem quando elas iriam aparecer, e suas visitas eram sempre esperadas com muito prazer, pois nos livraríamos, mesmo que por alguns minutos, das atividades da tia Edna. Uma delas era grandona, seu hábito parecia sempre lhe apertar o pescoço, ela dirigia uma Kombi branca. Era engraçado ver aquele monte de irmãs se apertando para caber lá dentro. Ela nos chamava de estrelinhas. Uma das coisas de que eu mais gostava em suas visitas era um jogo que ela fazia com a turma antes de ir embora. A …

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Olga, vivida por Yulyia Vyotskaya, mostra sua força em seu depoimento com a cabeça raspada

A dois passos do paraíso com o cineasta russo Konchalovsky

Eles falam diretamente para a câmera e nos contam sua história. Estão diante de quem? De nós, pelo menos. “Paraíso”, mais recente filme do veterano cineasta russo Andrei Konchalovsky, coloca três personagens em cena, em uma brilhante fotografia em branco e preto, e joga com a ideia de que todos temos que nos explicar quando chega a hora. A bela Olga (Yulyia Vyotskaya), princesa russa que milita na Resistência francesa; o burguês Jules (Philippe Duquesne), um chefe de polícia francês e colaboracionista; e Helmut (Christian Clauss), um jovem da aristocracia alemã que se tornou coronel nazista, têm suas vidas cruzadas na Paris ocupada. O “paraíso” do título é uma ironia com a ideia de “paraíso” da propaganda nazista de um novo homem em um novo mundo, mas dá a pista definitiva para que a gente entenda com quem, afinal, os …

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Maria Rita Amoroso_130914_099

Plano Diretor – Quais são os instrumentos que serão utilizados?

Como todos sabem estamos finalizando a Revisão do nosso Plano Diretor obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes e referência para o cumprimento da função social da propriedade (art. 182 § 1º e 2º da Constituição Federal). O plano diretor passa a ser exigido também para cidades integrantes de áreas de especial interesse turístico, para aquelas influenciadas por empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental e para as que pretendam utilizar os instrumentos do Estatuto da Cidade. Vamos, aqui, apresentar alguns dos pontos mais importantes do Estatuto da Cidade conforme Bassul (2002) no livro “Patrimônio Cultural: Conceitos, políticas, instrumentos” de Leonardo Barci Castriota, para dar início às discussões em curso com mais clareza. Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios: a ociosidade de vastas extensões de terrenos urbanos já dotados de infraestrutura responsável por aspectos da economia como elevação dos …

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Crédito: Renee of the Future/creativecommons.org

Me chamaram de Deus. E fui feito refém

Se você está lendo este relato é porque conseguiu decifrar a intrincada criptografia que apliquei e que me custou cinco meses de trabalho árduo e furtivo. Então, é sinal de que possui inteligência suficiente para entender a urgência da situação e talvez nos ajude a combater, ou ao menos, amenizar o perigo que toda a humanidade enfrenta. Meu nome é doutor H. e respondo como pesquisador sênior do Instituto de Aperfeiçoamento de Organismos Semissintéticos, o Iaos. Quer dizer, respondia, tempos atrás; agora o quadro é bem mais complicado. Há um semestre, nosso laboratório principal foi invadido por uma dúzia de homens fortemente armados e metidos em trajes militares que ostentam uma insígnia indicando pertencerem a alguma organização supremacista. Demonstrando treinamento aprimorado e senso de objetivo, eliminaram, de cara, os funcionários mais subalternos, só poupando os especialistas verdadeiramente qualificados. Logo em …

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O grande John (Foto André Sarria / Arquivo Pessoal)

O grande John e suas três patas

Minha família tem em casa o grande John, um cachorrinho que quando filhote se assemelhava a um morceguinho. John é uma mistura de alguma coisa com coisa nenhuma: pretinho, pequeno, magrinho e CHATO! E bota chato nisso! Ele tem um latido histérico e uma coragem que ultrapassa seu limite de tamanho, é daqueles pequeninos que impõem respeito, ou pelo menos ele acha isso. Mas nem tudo é maravilha no reino do poderio do grande John. Um dia, durante uma briga com outros dois vira-latas, ele foi atropelado e, infelizmente, os veterinários tiveram que amputar uma de suas patas traseiras. Após algum tempo de recuperação John voltou a ser o velho chato de sempre, e não perdeu sua dignidade por nenhum momento. Bem, alguma ele perdeu. Suas tentativas de fazer xixi num poste definitivamente não parecem nada digno. John sofre muito com …

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