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A frota de carros era quase descomunal

A vida gira, gira; girou. A vida é assim. As imagens perambulam pela memória. No Brasil, aconteceu desse modo. Em 1902, a população brasileira não chegara ainda aos 20 milhões de habitantes e era presidido pelo monarquista Rodrigues Alves. Enquanto Euclides da Cunha lançava Os Sertões, os socialistas, em manifesto, propunham, entre outras coisas, a extinção do Exército e do dinheiro. Se desse certo o manifesto dos socialistas, seria uma virada de cartas. Manaus e Belém esbanjavam o dinheiro da borracha, e a imprensa se horrorizava com dois blocos carnavalescos cariocas que perderam dois foliões depois de uma pancadaria. O horror/humor ganhava realce com os velórios, que eram animados por bebedeiras e samba. Assim o Brasil seguia dançando e dançando. O futebol, o esporte inventado pelos ingleses e hoje o mais popular do mundo, chegava de mansinho ao Brasil. Em …

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Crédito: photographymontreal/creativecommons.org

Propaganda enganosa

Valdinho estava irremediavelmente a perigo: depois de arruinar — ou ver arruinados — seus últimos três relacionamentos amorosos, estava… como dizer sem machucar? En-ca-lha-dís-si-mo. De mulher, não granjeava nem bom dia em elevador. Cansado de voltar de mãos — e outros membros — abanando das baladas, lógico que recorreu à santa madre dos desvalidos: a internet. Só que os sites de relacionamento tampouco ajudaram: os poucos encontros às cegas que conseguiu só lhe renderam pretendentes que oscilavam entre dragões mal disfarçados e figuras que nem mulheres eram, de verdade (não que o coitado tivesse preconceito, apenas não era a praia dele). Foi aí que caiu nas sendas da irmã malvada da santa madre dos desvalidos: a deep web, aquela que não é indexada pelos mecanismos de busca padrão e que, reza a lenda, seria até 5 mil vezes maior que …

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“BR 716” (como já chamam o filme “Barata Ribeiro 716” de Domingos de Oliveira) venceu o Festival de Gramado deste ano

Em “BR 716”, a vida era uma festa até que chegou a ditadura

A partir das memórias de quem bebeu além da conta, Domingos de Oliveira apresenta “Barata Ribeiro 716”, ou “BR 716”, como o filme passou a ser chamado após vencer o Festival de Gramado deste ano. O título refere-se ao endereço do cineasta entre os anos de 1961 a 1964, quando, após se separar de sua primeira mulher, passou um bom tempo entre festas, ressacas e paixões em um espaçoso apartamento em Copacabana. Apresentado hors-concours no Festival de Cinema do Rio, no mês passado, o filme tem estreia nacional no próximo dia 17. Domingos de Oliveira sempre usou a memória para contar suas histórias no cinema. Foi assim em “Era Uma vez” (2008), “Primeiro Dia de um Ano Qualquer” (2012) e “Infância” (2014), para ficar nos mais recentes. Agora, aos 80 anos, revira o baú para focar no período pré-ditadura ao …

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Guilherme Jofili/ creativecommons.org

O reino encantado do meu avô

O sítio dos meus avós, porçãozinha de terra pouco agricultável, mas belamente incrustrada entre vales solenes e indiferentes da cadeia de montanhas das Gerais e um céu azul demais, era o destino de minhas férias escolares e das dos numerosos primos da mesma pouca idade. A gente se esbaldava ao ar selvagem e se sujava sem que ninguém enchesse nosso saco inocente. Mas eu demarcava uma diferença em relação à renca de primos: enquanto eles sussurravam pelos cantos que vovô já andava caducando, eu prestava muita atenção nele, a quem achava malucamente fascinante. Certo que o velho não ajudava muito, com as histórias de assombrações… teve até aquela noite que, após contar a lenda do “fantasma da porteira”, cismou de nos pregar uma peça. A história dava conta de um carroceiro que havia sido esmagado contra a porteira de uma …

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O diretor catalão Dani de la Orden faz um recorte poético e divertido de algumas “primeiras vezes”, em Barcelona, no dia da passagem do cometa Rose, em 2013

Mais de uma primeira vez em “Noite de Verão em Barcelona”

A vida é movida a “primeiras vezes”, assim mesmo, no plural, quando somos obrigados a experimentar tantas e tantas novas situações diferentes ao longo da nossa existência. Uma ou outra dessas primeiras experiências serão primordiais para definir quem somos e para onde vamos, se é que há resposta para tais questões. Tem o primeiro beijo, o primeiro amor, a primeira gravidez. “Noite de Verão em Barcelona”, estreia na ficção do diretor catalão Dani de la Orden, faz um recorte poético, e divertido, de algumas “primeiras vezes” em apenas um dia. Mas não é um dia qualquer. É 18 de agosto de 2013 e toda Barcelona está com os olhos voltados para o céu para ver a passagem do cometa Rose. O filme mostra a espera do cometa de alguns desses moradores da bela cidade catalã, explorada com todas as suas …

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