– Eu já vou.
– Pra onde?
– Vou-me embora.
– Pra fora do País?
– Não, vou embora pegar meu filho.
– Ah, pensei que tinha desistido.
– Não, claro que não.
– Não vai não, fica mais um pouquinho, toma outro café.
– Mas se a coisa piorar eu vou mesmo.
– Eu sei, você já disse, seu filho espera um pouquinho. Fica aí.
– Não, eu digo que vou embora do País se piorar.
– É, mas vai piorar. Você já sabe para onde vai?
-Se eu for embora? Não sei, só sei por enquanto que vou pra Mariana.
– Mariana? Ela tá bem?
– Claro que não.
– O que houve. Gripe?
– De que Mariana você fala?
– Sua amiga!
– Não, vou pra Mariana em Minas, do desastre, da lama tóxica, da empresa criminosa, sabe? Tudo isso.
– Você vai?
– Eu vou. Preciso ir.
– Você tem razão. Em vez de ir pra fora, a gente precisa ir pra dentro nas horas de crise. Minha terapeuta sempre diz isso. Mas é difícil…
– Quero ir pra fora também.
– É? Pra onde?
– Se piorar, vou embora. Não sei pra onde. O mundo em crise… Eu te falei que vou pra Amazônia? Vou ver uma tribo indígena e um trabalho social com comunidades ribeirinhas. Ainda tem muita coisa boa acontecendo, gente fazendo o que precisa ser feito. Eu vou.
– Isso é legal. Você vai mesmo?
– Acho que vou. Quero muito ir.
– Mas você quer ir pra fora também. Tem ideia pra onde vai?
– Não sei. Na verdade, não quero ir, mas não sei, talvez eu vá.
– Vai! Vai sim! É bom pra arejar.
– Sei lá. Agora eu vou mesmo é buscar meu filho e sair com a minha filha. Preciso ir.
– Foi bom te ver.
– Eu também gostei. Vamos marcar outros cafés… Esse aqui ficou parecendo uma conversa da Democracia, que era eu hesitando de ir embora, com o povo, você, sem entender, sem querer que ela vá, mas deixando ir… Não parece?
– É, parece. Mas olha, vai mas volta, viu Democracia? Volta logo.