Pequeno mentiroso (Foto Acervo pessoal)
Pequeno mentiroso (Foto Acervo pessoal)

Cachorro, mentiroso

Andre_PB_400x400Em agosto, estava em Goiânia para concluir alguns trabalhos em cães. Iríamos atuar com os endemoniados pinsher.
Esses seres são conhecidos por sua fúria e escândalo, mas na verdade um cãozinho pinsher é 50% ódio e 50% tremedeira. Não sou especialista em comportamento animal, mas, às vezes, penso que essa fúria toda venha com uma boa dose de exagero, afinal existem outros cachorros (mais calmos) que poderiam engolir um pinsher inteiro só ao abrir a boca, então o pequeno demônio precisa garantir ser tóxico e mortal aos demais. Se não ganha na força pelo menos vence no grito.
Cientistas descobriram recentemente que cães, muitas vezes, são desonestos e mentem para enganar outros cães.

Sim, os pequeninos mentem mais que os grandes (Tirinha do Will Leite para o site willtirando)
Sim, os pequeninos mentem mais que os grandes (Tirinha do Will Leite para o site willtirando)

Essa pesquisa mostrou que quanto menor é o cão mais alto ele levanta as pernas na hora de urinar, com a intenção de mentir sobre seu tamanho.
Urinar, para os cães, é a forma mais comum de marcação pelo cheiro, e a forma em que isso é feito varia amplamente entre sexo e idade. Machos adultos tipicamente erguem a perna, juvenis geralmente se inclinam para frente sem levantar as pernas enquanto as fêmeas se agacham. Alguns machos mais velhos não levantam as pernas, mas isso é por questões ortopédicas, já que sentem dores.
Marcadores pelo cheiro é um modo comum de comunicação entre animais, pois, com isso, eles obtêm diversos tipos de informações de outro indivíduo, como a identidade individual, sexo, idade, status reprodutivo, status social, saúde, qualidade e parentesco.
Um cachorro macho sabe reconhecer que ali nas vizinhanças está uma fêmea no cio, por exemplo, ou que ali está outro macho mais velho que ele.
Essas comunicações através dos cheiros são vitais para a espécie e, com isso, eles podem sobreviver e interagir ao seu redor.
Desde criança, sabemos que cães ou gatos fazem xixi em certos locais para marcar seu território.
Esses cheiros que se convertem em informações e, na maioria das vezes, são honestas, mas, em alguns casos, são desonestas, como mostrado em recentes descobertas feitas no pequeno animal, chamado mangusto-anão, cientistas descobriram que alguns machos adultos, que são pequenos demais para a sua idade, enganam os outros marcando seu cheiro em locais mais altos que o esperado para o seu tamanho, fazendo-se parecer muito maiores do que aparentam ser.
Em cachorros, esse efeito acaba de ser descoberto também.
Antes era sabido que cachorros pequenos costumam urinar com maior frequência do que cachorros grandes, isso poderia indicar sua preferência por comunicar-se através do cheiro do que uma interação direta com seu concorrente, já que esse encontro poderia indicar uma recepção não muito boa.
Pesquisadores mediram o ângulo formado pela perna erguida do cão ao urinar e também a altura do animal.
Num total, foram analisados 45 cães machos adultos vira-latas.

Os maiores ângulos vinham de cães menores (Fonte autores do trabalho)
Os maiores ângulos vinham de cães menores (Fonte autores do trabalho)

A média do ângulo formado ia de 85 até 147°, e os maiores ângulos vinham de cães menores. Em outras palavras, quanto menor era o cão, mais alto ele levantava as pernas para urinar.
Os cachorros menores poderiam levantar as pernas bem mais alto para mentir sobre a altura de seu corpo e enganar cachorros maiores.
Opa, melhor ficar longe daqui, pois, nas redondezas, existe um cachorro maior e eu não quero confusão.

Para saber mais sobre este trabalho “Urine marking in male domestic dogs: honest or dishonest?” ele foi publicado na revista Journal of Zoology e o acesso é free.
https://zslpublications.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jzo.12603

Sobre André Sarria

Os certificados e papéis dizem que eu sou cientista, mas prefiro ser mais um "escutador" da natureza do que cientista. A natureza fala e eu a traduzo em linguagem de gente. Nasci em Cajobi e trabalhei em Londres como Pesquisador no Rothamsted Research. Atualmente moro em Madrid onde sou Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento em uma empresa Europeia de agricultura.

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