A escultura Bronskvinnorna (The women of bronze) ao lado de dora do museu de arte Konsthallen, Växjö, Suécia. A escultura é um trabalho de Marianne Lindberg De Geer  e mostra uma mulher magra e uma obesa como uma reação à fixação ao corpo.
A escultura Bronskvinnorna (The women of bronze) ao lado de dora do museu de arte Konsthallen, Växjö, Suécia. A escultura é um trabalho de Marianne Lindberg De Geer e mostra uma mulher magra e uma obesa como uma reação à fixação ao corpo.

O peso de sua balança

Devemos aceitar nosso corpo como ele é e nos orgulharmos dele, mesmo sabendo que isso trará risco para nossa saúde?
Revistas de moda sempre receberam críticas por promoverem padrões de beleza não saudáveis, como corpos extremamente magros. Recentemente, a revista Cosmopolitan publicou em sua capa a foto de uma modelo plus-size indo ao contrário daquilo que a revista vinha propondo há anos (mesmo que não assumido): Corpos perfeitos são corpos magros.
A imagem de uma modelo acima do peso, posando na capa de uma revista, vestindo um lindíssimo maiô de cetim verde, trouxe certo conforto para muitas pessoas obesas. Afinal, meu corpo é o que importa.
Body-positivity ou positividade corporal é o nome de um movimento existente, que diz que o corpo de cada pessoa só diz respeito a ela e que ninguém deveria se importar com a aparência dele.
Criado em 1996, ele diz o seguinte “Estamos criando um mundo no qual as pessoas valorizam suas identidades únicas e se libertam do ódio de si mesmas para que possam otimizar sua energia e intelecto para fazer mudanças positivas em suas próprias vidas, comunidades e além.”
Seja gordinho(a) e seja feliz.
Mas (como tudo na vida existe este maldito “mas”) a sociedade médica vê essa aceitação como arriscada, médicos advertem sobre os riscos que um sobrepeso pode trazer a uma pessoa.
Então, essa aceitação ao corpo nos colocaria diante de dois caminhos a seguir, a nossa saúde e a nossa felicidade pessoal, qual delas deveria ser prioridade?

Capa da revista "Cosmopolitan" com a modelo plus-size Tess Holliday.
Capa da revista “Cosmopolitan” com a modelo plus-size Tess Holliday

Não penso que a resposta seja simples, primeiro porque ter saúde também envolve estar psicologicamente bem e ter uma boa autoestima, aceitar nosso corpo e ser feliz com ele, mas, e os riscos enfrentados dessa aceitação?
Indivíduos obesos são altamente estigmatizados e enfrentam muitos preconceitos e discriminações. Nos Estados Unidos, essa discriminação aumentou 66% na última década e é comparável às taxas de discriminação racial, especialmente entre as mulheres.
Esse preconceito se revela em ambientes de trabalho, hospitais e escolas, são estereótipos de que pessoas obesas são preguiçosas, desmotivadas, sem autodisciplina, menos competentes, desobedientes e desleixadas; e que estão assim por terem comido demais. Baixa autoestima não é saudável!
Neste exato momento, milhares de pessoas, principalmente crianças e adolescentes, estão sofrendo por terem um corpo fora dos padrões, e muitos chegam ao extremo de dar fim a ele, existem estudos que ligam a depressão com obesidade. Aceitação é saúde!
Essas questões vão além de capas de revistas de moda, pois, em quase todos os países, estamos vendo um aumento no número de pessoas acima do peso, obesidade está no topo dos problemas de saúde pública. Obesidade vem com certos riscos à saúde como doenças cardíacas e diabetes. Como resultado, muitas pessoas que estão acima do peso são recomendadas pelos seus médicos a adotarem algum método de perca de peso. Cuidar-se é saúde.
Mas, muitos outros fatores também estão ligados com doenças do coração, e um estudo mostrou que solidão também aumenta o risco de doenças cardíacas, mas claro que ninguém decide ser solidário assim como ninguém decide estar acima do peso.
Perder peso não é tão simples. De acordo com alguns estudos, de cada cinco pessoas que aderem a um programa de perda de peso, apenas uma conseguirá manter-se no programa após dois anos.
Quando uma pessoa perde uma significante quantidade de peso, seu corpo passa por diversas mudanças. Mudanças hormonais significam que as pessoas sentem mais fome do que elas costumavam sentir depois de uma quantidade de comida, então seu metabolismo diminui, ea mesma ingestão de calorias, que anteriormente era mantida estável, agora se acumula nos quilos. Isso não torna impossível de manter o peso baixo, mas torna mais difícil.
Body-positivity se torna perigoso quando diz que é impossível e desnecessário perder peso, mas ignoram os desafios para a qualidade de vida de pessoas que estão dramaticamente obesas.

Enquete feita pelo autor no Facebook
Enquete feita pelo autor no Facebook

E agora?

Para quem quiser saber mais:
A revista Obesity publicou um review sobre os estigmas enfrentados pelas pessoas obesas: “The Stigma of Obesity: A Review and Update” pode ser encontrado em free acesso.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1038/oby.2008.636

Para saber mais sobre body-positivity. o movimento mantém uma página na internet (em inglês) https://www.thebodypositive.org

Sobre André Sarria

Os certificados e papéis dizem que eu sou cientista, mas prefiro ser mais um "escutador" da natureza do que cientista. A natureza fala e eu a traduzo em linguagem de gente. Nasci em Cajobi e trabalhei em Londres como Pesquisador no Rothamsted Research. Atualmente moro em Madrid onde sou Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento em uma empresa Europeia de agricultura.

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