Veio o barulho. Parecia um relâmpago. Olhei no relógio e ainda eram cinco horas da manhã. Mas verifiquei que o tempo estava bom. O que teria sido aquele estrondo. Parecia ser no Bosque dos Italianos, que ficava meia quadra de minha casa. Fui dar uma olhada.
Estava escuro ainda. Não dava para saber de onde viera o ruído. Sentei na sarjeta de uma das ruas que cercava o bosque. Esperei. E de repente veio outro barulho. Deu para perceber mais ou menos de onde viera. Mas a escuridão era danada. Teria que esperar mais uma vez.
Veio outro estrondo. Se não estivesse escuro eu acharia logo de onde ele partira. Passei pela cerca de arame farpado e segui para o lugar que eu achava provável a queda. Olhava, olhava, olhava… Não via nada. A escuridão não atrapalhava tanto como antes, mas atrapalhava. Sentei no tronco de uma árvore. Aguardei mais um pouco.
Enquanto esperava, fiquei pensando na vida. Teria bastante tempo até que chegasse o período da aula à tarde. Pensei em meus primos que eram legais e podiam ajudar naquela caçada, mas os que eram pentelhos também surgiram na minha cabeça. Esses eram um “saco”. Olhei para o alto das árvores. Mais um barulho explodiu ao meu lado. Olhei e vi uma fruta escura. Fui até lá e a agarrei. Era dura como uma pedra.
Depois resolvi sair pelo outro lado do bosque. Era medo de dar de cara com os vizinhos conhecidos e ter que explicar aonde achara aquele fruto. Ele era um segredo meu. Eram seis e trinta e meus pais deviam estar acordados. Escondi o jatobá entre as folhagens do jardim e entrei desarmado.
No dia seguinte, às cinco horas, apanhei o jatobá e coloquei no fundo da minha primeira gaveta do armário. Senti que ele tinha um cheiro estranho. Mas era a minha fruta. Fui para o bosque. Hoje acharia mais.
Achei mesmo. Uns dez deles despencaram. Voltei satisfeito e os guardei antes que meus pais levantassem. E assim foi acontecendo. Enchi minha gaveta inteira de jatobás. Comecei a abarrotar a penúltima gaveta para receber novos jatobás quando minha mãe apareceu.
Ao chegar perto do armário, minha mãe gritou:
– Que cheiro horrível é esse? Que chulé!!!
Pronto, meu jatobá tinha virado chulé.
Fim de linha.