O Brasil perde mais uma oportunidade histórica, com a realização das Olimpíadas de 2016. Oportunidade para se firmar na liderança global sobre sustentabilidade. E perde a oportunidade, ao mesmo tempo, de ao menos começar a viabilizar a tão sonhada aliança entre esporte e educação.
Mais uma oportunidade porque o Brasil tem sediado vários eventos, nos últimos anos, que poderiam colocá-lo em posição privilegiada nas discussões internacionais em torno de um modelo de desenvolvimento de fato sustentável.
O país já é credenciado naturalmente a essa condição, por ter a maior biodiversidade do planeta e o maior volume de água doce. Essa posição natural, entretanto, não tem representado uma liderança natural brasileira nas discussões globais sobre meio ambiente e sustentabilidade, apesar do país ter sediado o mais importante evento já realizado a respeito, a Rio-92 ou Eco-92.
Na Eco-92 foram aprovadas as grandes linhas que permearam a discussão global sobre meio ambiente e sustentabilidade nas últimas duas décadas e meia. Casos da Convenção das Mudanças Climáticas e Convenção da Biodiversidade e da Agenda 21.
Após a Eco-92, e com os recursos naturais que tem, o Brasil poderia com certeza ser o grande protagonista das discussões ambientais globais, mas não foi infelizmente o que aconteceu. Mesmo assim o país ganhou, nos últimos anos, novas chances de ouro para que esse protagonismo aparecesse, mas não aproveitou nenhuma delas.
Em 2012 o Brasil sediou a Rio+20, evento que fez um balanço dos 20 anos da Rio-92 e projetou uma nova agenda internacional, em torno dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, em vigor a partir deste ano de 2016, em substituição aos Objetivos do Milênio, que vigoraram entre 2000 e 2015.
Mas a postura brasileira na Rio+20 foi tão tímida, diante dos desafios globais, que de novo o país ficou atrás em muitas discussões. No caso, trata-se da posição oficial do governo brasileiro, pois a sociedade civil teve uma atuação muito forte na Rio+20.
Em 2013 e 2014, novas chances, com a realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo da FIFA. Grandes eventos, de repercussão global, que poderiam projetar o Brasil na liderança da ligação entre esporte e sustentabilidade.
Estádios e eventos que divulgassem as linhas básicas da sustentabilidade, meios de transporte e mobilidade mais limpos e democráticos, respeito aos direitos humanos e aos princípios da cultura de paz – eram os componentes do que se esperava do “legado da Copa do Mundo”, o que entretanto não foi observado nem de longe, diante das expectativas que vinham sendo anunciadas.
Agora temos a ocasião dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio de Janeiro. Mais uma oportunidade histórica perdida, e o maior símbolo nesse sentido talvez seja que, ao contrário do que se esperava, a Baía de Guanabara continua suja, poluída – e perigosa para a prática de algumas modalidades olímpicas. A qualificação radical do transporte coletivo também não acontecerá no Rio, embora alguma melhoria tenha acontecido em razão das Olimpíadas.
De qualquer modo, é uma honra para o Brasil sediar uma Olimpíada. Há muito tempo o mundo não precisa tanto do que prescreve o ideal olímpico, em termos de paz universal, de fraternidade entre os povos, de respeito à diversidade.
Tomara que, durante as competições, as Olimpíadas e Paralimpíadas no Brasil sejam de fato realizadas nesse espírito. Já será uma grande coisa, um enorme feito, apesar de tudo o que tem sido noticiado a respeito de violações de direitos e das oportunidades históricas que o país mais uma vez perdeu, no território da sustentabilidade e da estratégica ligação entre esporte e educação, como plataforma para o desenvolvimento humano integral e para uma vida ativa e saudável.
Tomara, enfim, que algo do (verdadeiro) espírito olímpico fique. O povo brasileiro merece.