Tomara que algo do verdadeiro espírito olímpico fique no Brasil, como estímulo ao esporte, à sustentabilidade, à vida ativa e saudável (Foto José Pedro Martins)
Tomara que algo do verdadeiro espírito olímpico fique no Brasil, como estímulo ao esporte, à sustentabilidade, à vida ativa e saudável (Foto José Pedro Martins)

Abertura da Rio 2016 reflete Agenda 21 do Esporte para a Sustentabilidade

    A Baía da Guanabara continua poluída, os Jogos Olímpicos de 2016 são mais uma oportunidade perdida para uma ampla e orgânica ligação entre esporte e educação no Brasil, houve e continua havendo muitas denúncias de violações de direitos humanos relacionadas às competições. São muitos problemas, não é possível “deletá-los”, assim como também não dá para esquecer as mensagens de apelo ecológico da cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016. Apesar das apresentações artísticas que não expressaram, em seu conjunto, o que é a muito mais rica e diversa cultura brasileira.       

De qualquer modo, o chamado à ação, diante dos enormes riscos representados pelo aquecimento global, foi um ponto positivo da abertura da Rio 2016. Diante de uma plateia de bilhões de pessoas, a advertência para a necessidade de engajamento coletivo em uma competição muito mais importante, a de cortar fortemente as emissões de gases-estufa, prevenindo uma elevação ainda maior das temperaturas nas próximas décadas.

A imagem de várias cidades inundadas, inclusive o Rio de Janeiro, se a temperatura média global subir 4 graus nas próximas décadas, com certeza calou fundo em corações e mentes em todo mundo. Do mesmo modo, a cena dos atletas depositando sementes, para a formação de uma futura “floresta”, foi inspiradora. Tomara que a oportunidade não seja perdida. Que a partir da Rio 2016 haja uma ligação cada vez mais profunda entre esporte e sustentabilidade, o que comentei em meu livro “Jogo Verde, Jogo Limpo – 100 propostas para uma Agenda 21 Brasil do Esporte pela Sustentabilidade, o Turismo Sustentável, a Paz e a Diversidade Cultural”, lançado pela Editora Komedi.

De fato, a abertura de tinturas verdes da Rio 2016 é, com a marca brasileira, reflexo de um movimento cada vez mais forte, em torno da Agenda 21 do Movimento Olímpico Esporte para o Desenvolvimento Sustentável. A Agenda foi lançada em outubro de 1999, na Terceira Conferência Mundial sobre Esporte e Meio Ambiente, realizada no mesmo Rio de Janeiro. A construção da Agenda foi coordenada pela Comissão de Esporte e Meio Ambiente do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Na apresentação do documento, o então presidente do COI, o lendário Juan Antonio Samaranch, observou que o meio ambiente foi ratificado como o terceiro pilar do movimento olímpico internacional em 1994, ao lado do esporte e cultura. Era uma iniciativa em resposta aos debates na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, de 1992, realizada no Rio de Janeiro.

Samaranch destacou que o COI atendeu ao convite da Eco-92 de que organizações governamentais e não-governamentais formulassem sua própria Agenda 21, com base na Agenda 21 global, aprovada no Rio de Janeiro. O presidente do COI faz então o seu próprio convite para que o movimento olímpico, esportistas e outras pessoas ligadas ao esporte que atendessem às recomendações da Agenda 21 do Movimento Olímpico, em conformidade com sua própria cultura, crenças e tradições.

Capa do livro "Jogo Verde, Jogo Limpo", sobre esporte e sustentabilidade
Capa do livro “Jogo Verde, Jogo Limpo”, sobre esporte e sustentabilidade

Objetivos da Agenda 21 do Movimento Olímpico

A Agenda 21 do Movimento Olímpico inclui objetivos relacionados a cada um dos capítulos da Agenda 21 global, aprovada na Eco-92. A Agenda 21 do Movimento Olímpico apresenta, portanto, interface com as dimensões econômica, social e ambiental, incluídas na Agenda 21 global.

O Capítulo 1 é dedicado aos Princípios Gerais, como o do próprio desenvolvimento sustentável, indicado pela Comissão Brundtland e consolidado na Rio-92. O Capítulo 2 aponta o objetivo geral da Agenda 21 do Movimento Olímpico, que seria o de indicar sugestões para os diferentes envolvidos com o esporte inserirem os princípios do desenvolvimento sustentável em suas políticas.

No Capítulo 3 estão indicados os três grandes objetivos do Programa de Ação do Movimento Olímpico para promover o desenvolvimento sustentável: promover condições sócio-econômicas; promover a conservação e manejo dos recursos naturais para o desenvolvimento sustentável; e sugerir o papel dos grupos principais envolvidos com o esporte.

Em termos de promoção de condições sócio-econômicas sustentáveis, a Agenda 21 do Movimento Olímpico propõe que os diferentes grupos envolvidos com o esporte auxiliem no combate à exclusão, na mudança de hábitos de consumo, na proteção da saúde, na melhoria dos assentamentos humanos e habitação e na integração do conceito de sustentabilidade nas políticas esportivas.

Na dimensão da promoção da conservação e manejo de recursos naturais, a Agenda 21 do Movimento Olímpico sugere que os grupos envolvidos com esporte colaborem na formulação de uma metodologia de ação ambiental para o movimento olímpico, na proteção de áreas de conservação, no uso eficiente e sustentável dos equipamentos esportivos, na energia gerada e consumida de forma sustentável, no transporte sustentável, na gestão adequada de resíduos e produtos perigosos, na gestão apropriada da água, na preservação da biodiversidade e dos ciclos naturais da biosfera.

Em termos do papel dos grupos principais, a Agenda 21 do Movimento Olímpico destaca o papel especial das mulheres, da juventude, das populações indígenas. O Capítulo 4 da Agenda 21 do Movimento Olímpico resume a Terceira Conferência sobre Esporte e Meio Ambiente promovida pelo COI, no Rio de Janeiro, entre 21 e 24 de outubro de 1999, quando o próprio documento foi aprovado.

Participaram da Conferência do Rio de Janeiro representantes do COI, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização Mundial da Saúde (OMS), Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Greenpeace, WWF, 19 federações esportivas internacionais, 93 comitês olímpicos nacionais, entre outros. A Agenda 21 do Movimento Olímpico inspirou muitas ações, como a Agenda 21 do Esporte Francês pelo Desenvolvimento Sustentável, que passou a vigorar em 2004. Londres 2012, considerados os Jogos Olímpicos mais sustentáveis até aqui, e a abertura da Rio 2016 são reflexo da iniciativa do COI. Pena que a Rio 2016 não tenha aprofundado em vários temas, que poderiam colocar o Brasil na liderança global da Agenda 21 do Esporte.

Sobre José Pedro Soares Martins

Mineiro nascido com gosto de café e pão de queijo, ama escrever pois lhe encantam os labirintos, os segredos e o fascínio da vida traduzidos em letras.

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