Escrever um livro, construir uma história em quadrinhos, ter uma ideia e colocá-la em um formato acessível a todos. Compartilhar informações, sonhos e afetos. Tecer uma rede de amigos, leitores e/ou amantes da palavra (e das imagens) e suas infinitas possibilidades. Mesmo em uma era digital, de maiores recursos de disseminação de publicações, ainda são repletos de desafios, semeados de labirintos, os caminhos da chamada literatura independente. Um terreno de invenção, de experimentação, um berçário de liberdade, de novas propostas e de sabores incontáveis. Pois Campinas terá um evento histórico para a propagação da literatura independente brasileira, com a Feira SUB, que acontece dia 17 de setembro, na Casa de Fazer, em Sousas, como já informou a Agência Social de Notícias (aqui).
Iniciativa do The MIX Bazar, e com apoio de várias organizações, a Feira SUB reunirá mais de 50 expositores, de muitas partes do Brasil, que apresentarão produções impressas autorais de vertentes como livros, zines, livros de artista, revistas, xilogravuras, pôsteres, ilustrações, fotografias e uma infinidade de produtos impressos com características de produção autoral, com baixa tiragem e alto valor artístico. Também haverá palestras e oficinas.
O ato de escrever é maravilhoso, embora também possa ser muitas vezes doloroso e perigoso. Você precisa se expor, buscar o que tem lá na raiz, seja do que te encanta ou do que te entristece. Então escrever (ou desenhar, ou fotografar, ou…) é libertador, de qualquer forma. Você libera e se liberta, mesmo que por alguns instantes, na ilusão de que, partilhando, você estará ampliando sua alegria ou atenuando sua amargura.
E escrever é acima de tudo descobrir. Você vai por um trajeto e, de repente, tem de desviar, de buscar outro roteiro, de traçar outro destino. Descoberta sobretudo de pessoas e seus incríveis universos. Cada pessoa é um universo infindável, é um turbilhão de surpresas, é um manancial de delícias e, claro, eventualmente de desencanto.
Então tem muito, mas muito mesmo envolvido em escrever (em desenhar, em fotografar, em…). E publicar um livro, um texto, uma imagem é o ponto culminante, embora não final, desse processo que é longo, provavelmente começa quando se nasce e termina – se é que termina – bem depois da morte. Mas é o momento mágico, é a materialização de páginas e páginas de vida crua, sanguínea, radical.
Alguns de meus livros foram publicados de forma praticamente independente, com o apoio deste ou daquele amigo querido e inesquecível. Então conheci um pouco desse território, vivenciei essa doce luta travada até ver um projeto literário publicado. E é um prazer indescritível, acho que já deixei claro com o que escrevi até aqui.
Também tive muitos títulos – a maioria – publicados por editoras de Campinas, que começaram pequenas, modestas, mas que por seu trabalho, seu esforço e preocupação com a qualidade se tornaram relativamente grandes, referência na cidade e no estado. O processo é mais ou menos o mesmo, da concepção à publicação. Os mesmos sentimentos, as mesmas doses de esperança envolvidas.
A literatura independente cresce, assim como tem evoluído o movimento “indie” em várias frentes. A Flip, de Parati, tem ampliado o espaço para os produtores e criadores independentes. Ter escolhido Ana Cristina César como a homenageada deste ano foi mais ou menos um tributo à chamada “geração mimeógrafo”, que publicava suas poesias assim, como dava, em época difícil para o país. É como começam muitas trajetórias, é como são revelados tantos talentos.
Por tudo isso a Feira SUB é super, é um momento especial para Campinas. Em outra conjuntura histórica delicada, quantas vozes serão ouvidas ali e multiplicadas e reverberadas. A hora da palavra – e da imagem – que deseja ser pássaro semeador.