Um mundo em movimento, uma vida em transformação. Se ainda havia dúvidas de que a Terra não cessa de girar, e dentro dela todos nós (sim, tem gente que ainda acha que há coisas imutáveis), os tempos atuais confirmam que, pelo contrário, nada está parado. O fluxo de energias, de ideias, de afetos, é constante. A sociedade contemporânea vive essa maravilhosa metamorfose, e na realidade os ciclos vitais estão cada vez mais acelerados.
Mudanças rápidas geram incertezas, porque concepções cristalizadas são colocadas em xeque a todo momento. A sensação de insegurança aumenta, corre-se o risco de se apegar a velhas crenças, a ideários ultrapassados, muitas vezes perigosos. Esta é a origem de fundamentalismos, e eles estão vicejando aqui e ali.
Uma das faces desse momento atual, de alterações mais rápidas e constantes, é a da nova diáspora em curso. Depois da primeira, quando o ser humano saiu da África para povoar todo o planeta (com as boas e más consequências que conhecemos), e da segunda, provocada pela expansão do colonialismo europeu (e a escravidão é o fruto mais amargo e abominável desse processo), estamos em plena terceira diáspora.
Trata-se da nova onda migratória, que leva milhões de pessoas a buscar alternativas de sobrevivência em terras distantes das suas, por motivos diversos, mas geralmente pelas guerras, pela fome, pelo recrudescimento da intolerância ou por outras modalidades de violência extrema.
É neste cenário que Campinas representa, na segunda década do século 21, exemplo de cidade que precisa repensar todos os seus fundamentos. Campinas está integrada no circuito mundial desde o ciclo econômico da cana-de-açúcar. Com a cultura do café e as ferrovias a inserção global se fortaleceu, tendo como um dos fundamentos o horror do uso da mão-de-obra escrava, associada à segunda diáspora.
Depois vieram as rodovias e Viracopos, consolidando a integração às correntezas globalizadas. Os valores, as bases da vida comunitária na cidade foram alicerçados nesse processo, e agora eles devem ser necessariamente revistos.
Haitianos, sírios, cubanos e outros refugiados e/ou migrantes estão vivendo em Campinas, e muitos deles estão tendo uma acolhida mais adequada do que em outros lugares, pela ação cidadã de grupos, indivíduos e áreas do poder público, como mostrou recente reportagem especial da Agência Social de Notícias, de Adriana Menezes (texto) e Martinho Caires (fotos). (Ler aqui)
São gestos que estão buscando garantir o início de uma nova vida para esses cidadãos do mundo e irmãos de humanidade. Mas com certeza é preciso avançar mais, como a própria reportagem ressalta.
A cidade é polo científico e tecnológico, sedia unidades de corporações globais, é perene a movimentação de estudantes e professores em função de parcerias universitárias de escopo internacional. Agora ela é desafiada a receber cada vez melhor as pessoas que espelham a outra face da globalização acelerada, a da terceira diáspora.
É uma questão de ética, de fortalecimento de princípios e preceitos que a colocariam mais perto de uma cidade realmente inclusiva, solidária. O que já está acontecendo, como demonstrado na citada reportagem da ASN, é um sinal de esperança de que podem ser alicerçadas políticas públicas, envolvendo todos os setores da comunidade, ressaltando Campinas como exemplo de fraternidade e tolerância, tão urgentes e necessárias no complexo e turbulento momento planetário.