Muita gente, como eu, teve seus primeiros passos no mundo da leitura através dos gibis. Como eu adorava receber as aventuras do Tarzan, de “caubói” ou da Turma da Mônica, de meus pais ou de meus padrinhos! E de vez em quando eu ia sozinho, de Itamogi a São Sebastião do Paraíso, comprar algum exemplar novo. Com alguma licença, posso até incluir as fotonovelas nessa etapa de preparação para os encantos da literatura. Não é por acaso, então, que acho uma maravilha, uma preciosidade, o trabalho muitas vezes silencioso, sem a repercussão que mereceria, mas permanente e sempre de alta qualidade, que vem sendo feito a favor dos quadrinhos, do cartunismo e do humor gráfico em geral, pela Biblioteca Pública Municipal de Campinas “Professor Ernesto Manoel Zink”.
É comovente a dedicação que a equipe da Biblioteca demonstra na preparação de mostras e outros eventos que celebram os gibis, os cartuns, as tiras, as outras modalidades do humor gráfico. E mais uma vez esse empenho é demonstrado, no caso da exposição “CHÁKE – Brasil – Paraguai: unidos pelo traço”, que pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, até o dia 17 de dezembro. A programação contempla um bate papo sobre Quadrinhos e História, com Bira Dantas, Dario DJota Carvalho e Lilo Parra, no dia 24, às 19 horas, também com entrada gratuita.
Bira Dantas é, ao lado de Roberto Goiriz, um dos curadores da exposição que faz nova leitura, por meio do cartum, do conflito Brasil-Paraguai (1865-1870). Uma guerra que desenhou grande parte do que seria a República brasileira e que devastou o país irmão, levado a um ciclo de governos autoritários que apenas recentemente começou a ficar desgastado. Enfim, mais uma vez a Biblioteca Pública Municipal “Prof.Ernesto Manoel Zink” presta relevantes serviços à cultura e à educação, com uma exposição que com certeza joga novas luzes, novas perspectivas, em relação ao lamentável conflito entre Brasil e Paraguai (e que também envolveu a Argentina).
Apenas nos últimos dois anos, a Biblioteca Pública de Campinas promoveu outros importantes eventos no campo do humor gráfico e dos gibis. Em 2015, sediou, por exemplo, o lançamento do Catálogo da 1ª Bienal Internacional da Caricatura, uma edição coordenada pelo caricaturista e historiador Luciano Magno, organizador da Bienal. Ainda no ano passado, recebeu a Exposição Brasil-África, que apresentou ao público brasileiro o que há de mais representativo nos quadrinhos africanos. Foi um evento histórico, pelo que contribuiu para a desconstrução de muitos mitos e estereótipos sobre a África.
Em 2016, novas iniciativas, como a de setembro, comemorando os 70 anos da Biblioteca, com mais um tributo ao gibi, na exposição “40 anos da Turma do Gabi”, do ilustrador e quadrinista Moacir Torres. São muitos os momentos de valorização dos quadrinhos e do humor gráfico. A Biblioteca Pública Municipal “Prof.Ernesto Manoel Zink” tem escrito um belo capítulo dessa história de amor a uma das vertentes centrais da cultura moderna e contemporânea.
