Mais uma vez Campinas aparece bem posicionada em ranking nacional. Agora, em sexto lugar no Índice de Desafios da Gestão Municipal (IDGM), que considera 16 indicadores em cinco áreas: Educação, Saúde, Segurança, Saneamento e Sustentabilidade. São justamente algumas das áreas que vêm mostrando que, apesar de suas inegáveis vantagens comparativas com relação ao quadro geral do Brasil, Campinas ainda está longe de ser considerada uma cidade efetivamente sustentável.
Sim, não dá para negar. Tenho andado muito por este Brasil nos últimos anos e dá para afirmar que Campinas continua muito à frente em vários quesitos, como o seu polo científico e tecnológico, a sua malha logística – com destaque para as rodovias e Aeroporto Internacional de Viracopos – e o parque universitário, que proporciona mão-de-obra de qualidade. Por esses elementos, Campinas é, sim, bem competitiva em relação à imensa maioria das áreas urbanas brasileiras.
É necessário notar que esses pilares positivos foram erguidos já há algumas décadas. Mas a cidade cresceu muito, adquiriu porte metropolitano e na fatal complexidade e magnitude dos desafios. Os reflexos do padrão de desigualdade – que é presente em toda a sociedade brasileira – são muito evidentes na tessitura urbana de Campinas, que nesse sentido ainda precisa caminhar bastante para responder à altura aos dilemas contemporâneos.
Se aparece com destaque em Educação, Saúde e Segurança no ranking citado, não é esta a percepção de grande parte da população. Há muitos problemas em educação e saúde, bastando citar o déficit ainda alto de vagas em educação infantil e o pânico recente quanto ao alto número de casos de dengue por dois anos seguidos – situação que, aparentemente, melhorou bem, em função de várias medidas tomadas.
Quanto ao campo Saneamento, há motivos para comemorar e outros para preocupação. Campinas está próxima de atingir 100% de capacidade de tratamento de esgotos, o que é ótimo para a qualidade das águas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Mérito para governos que mantiveram o programa estabelecido lá no início do século 21 na Sanasa e ao aporte de investimentos de várias fontes. Entretanto, permanece a necessidade de garantia da segurança hídrica para cidade e toda a região, como ficou demonstrado na forte estiagem de três anos atrás.
Do mesmo modo, a questão dos resíduos continua merecendo um tratamento melhor por parte da cidade que se orgulha de seus centros de pesquisa e desenvolvimento. Menos de 3% dos resíduos urbanos são encaminhados para reciclagem, índice muito atrás de cidades como Curitiba, com quem Campinas já competiu em várias áreas até início da década de 1990. O sistema de cooperativas de reciclagem poderia ser muito mais incentivado, por exemplo.
Todos os dados citados compõem o conjunto da Sustentabilidade, que não pode estar limitada à área ambiental. Assim, não adiantam os esforços feitos no âmbito da Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, se em outros campos do setor público não acontece a mesma intensidade de ações em sintonia com as demandas da sustentabilidade.
Transporte público insuficiente, milhares de famílias ainda morando em condições sub-humanas, espaços culturais exigindo grande melhoria – são vários os campos em que a cidade tem que melhorar muito, até chegar até o desenvolvimento sustentável.
Campinas tem uma grande oportunidade, agora, de apontar para novos rumos, em função do processo de definição do Plano Diretor para os próximos dez anos. O Plano está em sua fase final de discussão. Há ainda muita controvérsia sobre a ocorrência ou não de efetivos canais de participação popular no debate do Plano Diretor.
A cidadania precisa ficar muito atenta nesses momentos decisivos. São preocupantes as notícias dando conta de que alguns setores defendem uma certa flexibilização nos usos de certos espaços urbanos, sobretudo aqueles próximos de territórios hoje considerados rurais.
Mas é um momento importante para Campinas decidir se assume de fato, ou não, uma postura condizente com o desenvolvimento sustentável – um conceito sempre polêmico, sujeito a discordâncias, mas que no fundo quer dizer isso: crescer mas respeitando o limite dos recursos naturais, a defesa da vida, com justiça social e equidade e valorização da diversidade.
Dessa forma, se em mais um ranking nacional Campinas aparece com destaque, não deveria ser motivo para acomodação. Pelo contrário, deveria ser um estímulo para novos, concretos, necessários e possíveis avanços em campos vitais para o conjunto social e cada um dos moradores que aqui nasceram ou aqui escolheram para viver com dignidade.
100% de capacidade de tratamento de esgotos não e 100% do que a cidade precisa pois so e medido o que tem coleta. vamos lembrar que a cidade tem pelo menos 70 bairros sem esgoto https://www.youtube.com/watch?v=AAB4r-NIbGE