Prévia dos movimentos anti-globalização, nas ruas de Berlim em setembro de 1988 (Foto José Pedro S.Martins)
Prévia dos movimentos anti-globalização, nas ruas de Berlim em setembro de 1988 (Foto José Pedro S.Martins)

Novo modelo de desenvolvimento: propostas em meu terceiro livro

“Terra Nave Mãe – Por um socialismo ecológico” é o meu terceiro livro, lançado em 1991 pela CEPE/Traço a Traço. Eu estava muito influenciado pelo grande debate ecológico global naquele momento, no cenário da repercussão do assassinato de Chico Mendes em 22 de dezembro de 1988 e pela proximidade da Eco-92 ou Rio-92, como ficou conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que seria realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro.

Três eventos que tive a oportunidade de cobrir, como repórter da Agência Ecumênica de Notícias, foram motores especiais para escrever “Terra Nave Mãe”.

O primeiro foi o Tribunal Permanente dos Povos, em Berlim, em setembro de 1988, realizado em paralelo à reunião anual do Banco Mundial e FMI. A sessão do Tribunal na Berlim ainda dividida foi promovida para criticar as políticas do Bird e FMI para os países em desenvolvimento e suas populações, como os povos indígenas.

As ruas de Berlim tomadas de manifestantes de vários países, ecopacifistas, ecofeministas, indigenistas, foram cenários precursores do que viria a seguir Outro evento, no Fórum Global no Rio de Janeiro em 1992 e em várias edições posteriores do Fórum Social Mundial. O grito da Terra Nave Mãe por um outro mundo.

Outro evento foi o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA), entre 20 e 25 de fevereiro de 1989. O evento realizado ainda no contexto da repercussão da morte de Chico Mendes, teve como catalisador o protesto dos povos indígenas da região contra a usina de Kararaô, depois rebatizada de Belo Monte (e que foi afinal construída nos governos petistas…) Altamira pegando fogo, a UDR promovendo grandes manifestações a favor da usina, os povos indígenas tentando se organizar depois que a Constituição de 1988 tinha finalmente garantido os direitos a seus territórios (hoje sob grande ameaça, assim como a Constituição).

Terra Nave Mãe: Por um socialismo ecológico (Cepe/Traço a Traço Editorial, 1991), meu terceiro livro
Terra Nave Mãe: Por um socialismo ecológico (Cepe/Traço a Traço Editorial, 1991), meu terceiro livro

E o terceiro evento foi a Conferência Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC), realizada em março de 1990 em Seul, na Coreia do Sul (um ano depois, portanto, de Altamira). A Conferência foi o momento culminante de um programa do Conselho Mundial de Igrejas e foi convocada com o propósito de construção de três pactos: 1. Contra a dívida externa que sufocava os países em desenvolvimento e portanto afetava a Justiça 2. Contra a corrida armamentista que impedia a Paz. 3. Contra o modelo de desenvolvimento baseado na queima de combustíveis fósseis que agravavam o aquecimento global, impactando na Integridade da Criação. Em Seul, os grupos negros muito organizados conseguiram o estabelecimento de um quarto pacto, contra o racismo (assunto muito atual, na esteira das manifestações nos Estados Unidos, Europa e, a partir de hoje, no Brasil). Eu me lembro que viajei a Seul (algumas fotos abaixo) no mesmo voo da deputada Benedita da Silva, do Rio de Janeiro – ela foi uma das vozes que conseguiram o quarto pacto da JPIC.

Sessão do Tribunal Permanente dos Povos em setembro de 1988 em Berlim (Foto José Pedro Soares Martins)
Sessão do Tribunal Permanente dos Povos em setembro de 1988 em Berlim (Foto José Pedro Soares Martins)

Esses eventos me animaram a escrever um livro critico ao modelo de desenvolvimento em curso, mas também ao chamado socialismo real – o Muro de Berlim tinha acabado de cair – que da mesma forma que o capitalismo não respeitou o equilíbrio dos recursos naturais. Daí o ecossocialismo ou socialismo ecológico, com base em quatro eixos: Ecodesenvolvimento, Ecofeminismo, Ecopolítica e Ecopacifismo. É em síntese o conteúdo de “Terra Nave Mãe”. Alguns artigos acadêmicos chegaram a apontar o livro como pioneiro na discussão sobre o ecossocialismo no Brasil. Em função da pandemia esse debate volta com força. (Ana Isa é a autora da bela capa do livro.)

Sobre José Pedro Soares Martins

Mineiro nascido com gosto de café e pão de queijo, ama escrever pois lhe encantam os labirintos, os segredos e o fascínio da vida traduzidos em letras.

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