Arte, território da liberdade por excelência, o planeta das crianças (Foto Adriano Rosa)
Arte, território da liberdade por excelência, o planeta das crianças (Foto Adriano Rosa)

Educação deveria preparar as pessoas para serem crianças, e não adultos encarcerados

Uma grande discussão no Brasil nos últimos tempos sobre os rumos da Educação no país. Os riscos são cada vez maiores de não termos, nunca, ou em um tempo bem distante, uma Educação de qualidade e democrática, inclusiva e transformadora. Não será o momento, também, de se repensar o sentido da Educação? Será que ela deve continuar sendo uma trajetória única e exclusivamente para a formação de um adulto profissionalizado, com determinada função na sociedade? Diante de tudo o que estamos vendo, diante de um cenário de guerras, intolerância e múltiplas modalidades de violência, de falência de uma ampla gama de ideologias, não será o sistema educacional que está em xeque, em todo planeta? E nesse sentido, será que não é passada a hora de termos uma Educação que prepare as pessoas para serem crianças?

As guerras, todas elas, seja qual for o seu perfil, têm como vítimas principais as crianças. As crianças transformadas em soldados em miniatura em vários conflitos mundo afora. As crianças sequestradas pelo Boko Haran na África – recente relatório da ONU mostrou que as ações do grupo armado já levaram ao deslocamento de 1,5 milhão de crianças em solo africano. As crianças mortas por balas perdidas (que sempre acham alguém) no Rio de Janeiro. As crianças que continuam sendo vítimas de maus-tratos dentro de suas próprias casas, locais de horror e sangue. E não foi assim quando Herodes queria encontrar um certo menino, decretando a morte de todas as crianças do reino?

As crianças são as principais vítimas das guerras, da violência, das injustiças, porque os algozes conhecem o potencial libertador e revolucionário das crianças. As crianças que questionam os poderes estabelecidos na raiz. As crianças que têm uma criatividade inesgotável e incomensurável. Não à toa alguns movimentos artísticos dos mais inovadores tiveram o ser criança como referência. Não por acaso pensadores libertários como Nietzsche elegeram as crianças como as portadoras do novo, do realmente criador de novos paradigmas.

Mas o nosso sistema de ensino – o nosso e o da maioria dos países – continua tolhendo a imaginação das crianças. As cidades continuam retirando os espaços do brincar e do cantar e do encantar das crianças. Os homens sérios continuam colocando as crianças na coluna dos improdutivos, e quando muito como potenciais consumidores.

Porque não se respeita de fato as crianças. Porque se deseja a sua tutela eterna. Porque se imagina que elas não têm senso crítico. Porque se crê que elas não sabem o que é bom para elas. Porque não são oferecidas alternativas para que elas desenvolvam todo o seu imenso potencial.

Recentemente tivemos mais um Dia das Crianças. Na imprensa, as tradicionais reportagens sobre as “últimas compras para os filhos”. Em toda parte, saudações e homenagens às crianças. Mas pouca ação efetiva para que elas sejam o que devem ser, seres livres e vocacionados para a felicidade.

A Educação que amputa a liberdade de criação, que encarcera as emoções, que extermina os espaços e tempos do brincar, que abomina o livre pensar – essa Educação está falida, e o resultado será a continuidade de tempos e espaços de lamento, dores e sonhos nunca realizados.

 

 

Sobre José Pedro Soares Martins

Mineiro nascido com gosto de café e pão de queijo, ama escrever pois lhe encantam os labirintos, os segredos e o fascínio da vida traduzidos em letras.

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