Jonas Donizette foi aclamado presidente da Frente Nacional de Prefeitos na semana passada. Campinas em destaque no municipalismo brasileiro, uma honra para a cidade, é um bom momento para Jonas começar a pensar no seu legado. Este é o maior patrimônio de um político, o que ele deixa para as novas gerações, o que é materializado em uma imagem que a população faz dele. E a imagem do atual prefeito de Campinas ainda não está consolidada. Há defensores fervorosos e críticos extremados.
Mais um natural de Minas Gerais a fazer carreira política vitoriosa em Campinas, Jonas Donizette foi eleito para o primeiro mandato de prefeito em 2012 cercado de enorme expectativa. Há mais de duas décadas o poder municipal enfrenta turbulências, com reflexo direto na gestão pública e na vida de todos cidadãos.
O governo Jacó Bittar (1989-1992) foi marcado por muitas polêmicas, derivadas em boa parte do racha que houve entre ele e o partido que ajudou a fundar, o PT. Seu sucessor foi Magalhães Teixeira, eleito para um segundo mandato (1993-1996), surpreendido pela doença que o atingiu, o que não foi impedimento para deixar marcas importantes, como a paternidade, em plano municipal, da política pública que evoluiria depois para o Bolsa Família em escala nacional. Grama faleceu no exercício do cargo mandato, sendo sucedido pelo vice, Edivaldo Orsi.
O sucessor de Orsi, Chico Amaral (1997-2000), também foi eleito para um segundo mandato, igualmente tumultuado. Foi por exemplo a época de grandes ocupações na cidade.
Havia muita esperança com a eleição do sucessor de Chico, o arquiteto Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT. Muita gente votou nele não por causa do partido, mas porque sabia de seu amor e dedicação pela cidade.
Veio a tragédia de 10 de setembro de 2001, quando Toninho foi morto em um crime absurdamente não esclarecido. A sucessora, a vice Izalene Tiene, também teve um mandato (2001-2004) permeado por muitas discussões.
O prefeito seguinte, Hélio de Oliveira Santos, teve um primeiro mandato (2005-2008) com muitas obras, mas depois veio o segundo e o drama de sua cassação, assim como a do vice, Demétrio Vilagra.
O mandato de prefeito foi concluído por Pedro Serafim, então presidente da Câmara. Foi muito duro para Campinas, um prefeito assassinado e outro retirado do cargo pela Câmara, com poucos anos de diferença. Foi neste cenário a eleição de Jonas em 2012, em dura disputa com Marcio Pochmann, quando o PT ainda colhia os frutos dos programas sociais de Lula e Dilma.
O primeiro governo de Jonas foi então muito marcado pelo tradicional “colocar a casa em ordem”, depois de vários governos turbulentos. Teriam sido poucas obras de destaque e a repercussão negativa nos casos dos recordes sucessivos de casos de dengue e dos comissionados, por exemplo. Esta é a visão dos seus críticos, com o acréscimo de que Jonas ainda não teria uma “marca”, algo que o distinguisse dos demais ocupantes do Palácio dos Jequitibás.
Os seus defensores têm, claro, uma visão oposta. Lembram da remodelação da avenida Francisco Glicério (com potencial impacto futuro na requalificação do centro em geral), do apoio a eventos de massa como o Chefs na Praça, da importante e transformadora implantação do Parque Dom Bosco no Vida Nova, do suporte à construção de unidade do Hospital de Câncer de Barretos, do apoio a inovações como os ônibus elétricos, da construção de vários planos abrangentes na área ambiental etc. Também observam que a crise fiscal, derivada da crise econômica, atingiu em cheio os governos municipais, em 2015 e 2016, repercutindo na capacidade de investimentos.
Enfim, há argumentos para ambos os lados. De qualquer modo, o relógio está andando. Há expectativas ainda maiores com relação ao segundo mandato de Jonas. O BRT será de fato construído, com a consequente melhoria no transporte público? O anunciado reservatório de água sairá do papel? Haverá melhorias expressivas nos serviços de saúde e educação, sempre um dilema para os governos municipais? O Plano Diretor que o prefeito enviará para a Câmara efetivamente apontará para uma cidade inclusiva e sustentável? Haverá um substituto para o almejado teatro, que poderia ser finalmente viabilizado no Parque Ecológico mas depois foi cancelado?
Muitas indagações no horizonte. Como elas serão respondidas e novas posturas e iniciativas, diante de desafios que certamente virão, determinarão, daqui a quatro anos, o legado de Jonas Donizette após dois mandatos na Prefeitura de Campinas.