"Eles Só Usam Black-tie" mostra a vida de jovens negros sul-africanos e é quase todo rodado em branco e preto
"Eles Só Usam Black-tie" mostra a vida de jovens negros sul-africanos e é quase todo rodado em branco e preto

“Eles Só Usam Black-tie” retrata crise de geração pós-Apartheid

DaniPrandi_0188c_500O suicídio de uma garota da turma transmitido on-line muda o futuro de um grupo de amigos de um bairro de negros de classe média alta na África do Sul. Em “Eles Só Usam Black-tie” (tradução para “NeckTieYouth”, algo como “juventude de gravatas”), que estreia no Brasil nesta semana, o novato diretor Sibs Shongwe-La Mer, de 23 anos, retrata “millennials” em crise existencial, em meio a drogas, falta de perspectiva e conversa fiada. O título do filme no Brasil faz trocadilho com “Eles Não Usam Black-Tie”, de 1981, dirigido por Leon Hirszman, mas vamos levar “na esportiva”.

O cenário do filme é um país igualmente em crise, após o fim do Apartheid, e Joanesburgo, uma cidade com toda a crise que se pode carregar com tanta desigualdade social escancarada. O filme, que lembra “Kids” (de Larry Clark, de 1995), foi praticamente rodado em preto e branco, somente com algumas cenas coloridas do passado, tem um roteiro que é um fiapo de história, porém bem conduzido, sobre os colegas de uma garota que se suicidou em 2013 reunidos para uma série de depoimentos.

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Os cortes são rápidos, a música é cheia de energia, mas há uma grande tristeza no ar

A trama começa com a preparação da garota Emily (Kelly Bates), branca e rica, para seu suicídio. Os depoimentos sobre o que ocorreu se sucedem, mas dois personagens passam a dominar a cena, os amigos Jabz (Bonko Khoza) e Sep, vivido pelo próprio diretor, que estão com tempo e dinheiro para perambular pelos mais variados cenários de Sandton, um subúrbio elegante nos arredores de Joanesburgo, enquanto bebem, se drogam e falam de garotas.Os cortes são rápidos, a música é cheia de energia, mas há uma grande tristeza no ar, no olhar de Jabz, que era o melhor amigo de Emily, que tem umas visões, uns flashes da garota.

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O diretor Sibs Shongwe-La Mer faz o personagem Sep no filme, além de ser escritor e artista visual

Com uma galeria de personagens para dispor, Shongwe-La Mer desfila distopia, para usar uma palavra da moda. Há o rapper, um drogado com vestido de noiva, duas garotas patricinhas em busca de alguma ação e muita esquitice entre cenas de festas aparentemente improvisadas e imagens da cidade, do antes e depois, enquanto uma narração lamenta a transformação do lugar ao longo das últimas décadas, “quando o individualismo destruiu o espírito local”.É um filme forte, tem um ritmo diferente do que estamos acostumados, e tem personalidade.

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O cenário do filme é a sul-africana Joanesburgo pós-Apartheid e a vida de jovens classe média

Shongwe-La Mer é um fenômeno que, além de cineasta também é escritor, artista visual e curador. Depois de um curta-metragem bem recebido, seu rascunho de “NeckTieYouth”, então chamado de “Pissings Territorials”, foi selecionado para o programa “Final Cut”, do 70º Festival Internacional de Cinema de Veneza. Estreou em Berlim no ano passado e começou a rodar os festivais. Foi bem-recebido e o diretor já está fazendo seu próximo filme, que vai se chamar “Foreverland”.

TRAILER

Sobre Daniela Prandi

Daniela Prandi, paulista, jornalista, fanática por cinema, vai do pop ao cult mas não passa nem perto de filmes de terror. Louca por livros, gibis, arte, poesia e tudo o mais que mexa com as palavras em movimento, vive cada sessão de cinema como se fosse a última.

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