No seu coração cabem todos os rouxinóis, como aqueles que morreram para colorir rosas com espinhos no peito. Mães que conhecem a geografia da tristeza e da opressão. Nos quatro cantos do mundo, grupos delas lutam pelos direitos humanos mais básicos. Elas querem garantir vida longa e farta às novas gerações ou apenas enterrar os seus filhos.
Um dos mais conhecidos é o das Madres de Plaza de Mayo. Com a alma sangrando, desde o dia 30 de abril de 1977 mães de desaparecidos políticos pela ditadura militar, implantada desde um ano antes, passaram a ir todas as quintas-feiras à Praça de Maio, em frente à sede do governo argentino, em Buenos Aires, reivindicar notícias sobre os filhos.
As Madres de Plaza de Mayo foram fundamentais na luta pela redemocratização na Argentina, após uma ditadura que deixou pelo menos 30 mil mortos e desaparecidos. Depois foi também criado o grupo de avós que lutam para resgatar os netos que, filhos de mortos e desaparecidos, acabaram sendo adotados em segredo, muitos deles por pessoas ligadas ao próprio regime militar.
Ganhando reconhecimento internacional e muitos prêmios em direitos humanos, as Madres estão momento de novo em conflito com o governo argentino. A relação não é boa com o novo presidente, Mauricio Macri, que já se recusou a receber líderes de madres e abuelas, embora já tenha voltado atrás em uma oportunidade.
Mortos e desaparecidos configuram uma realidade muito dura e próxima hoje, por exemplo no México. Calcula-se em 22 mil o número deles nos últimos oito anos, em um contexto de muita violência. Fuerzas Unidas por Nuestros Desaparecidos en México (Fundem) é uma das organizações de mães e familiares que estão atuando naquele país.
Outros grupos de mães, menos badalados, protagonizam nesse momento lutas muito duras em vários pontos do planeta. No Marrocos, a organização 100% Mamães é uma das únicas que acolhem mães solteiras, uma situação ainda inconcebível em termos legais e culturais no país. Os seus filhos são chamados de “wlad ihram”, simplesmente “filhos do pecado” no dialeto local.
Justiça é o que querem, igualmente, as Mães de Soacha, grupo criado por mulheres na Colômbia. Elas lutam por verdade, reparação e punição no caso dos filhos mortos em 2008 pelas Forças Armadas colombianas, sob a caracterização oficial de “guerrilheiros mortos em combate”. Elas têm sido muito perseguidas em sua luta que prossegue até hoje.
Também é o perfil das mulheres reunidas na Mother´s Right Foundation, criada em 1990 com o objetivo de proteger os direitos dos pais que tiveram filhos mortos a serviço do exército soviético e russo em tempo de paz. Ou das Mães de Tiananmen, grupo de familiares e amigos dos jovens massacrados na famosa praça de Pequim a 4 de junho de 1989. Ou de dezenas de grupos que de mães lutam pela democracia e direitos civis na Coreia do Sul, em vários países do Leste Europeu ou da África.
No Brasil também existem, nesse Dia das Mães, casos de grupos de mulheres mobilizados em várias frentes. O movimento Mães de Maio está empenhado em justiça no caso dos mortos em 2006 em São Paulo. No Rio de Janeiro, o grupo Mães de Acari foi criado para apurar os casos de 11 jovens sequestrados em 1990. Ambos na mesma linha, portanto, de mães de vítimas da ditadura, que se reuniram em grupos como o Tortura Nunca Mais.
A lista é longa. O certo é que mães em todo mundo enfrentam a dor e o descaso na luta pela justiça e a paz e contra a opressão e o esquecimento. No anonimato, na maior parte das vezes. Mães indígenas em toda a América Latina, mães aborígenes no Canadá e Austrália. Mães de 200 meninas sequestradas em uma escola secundária na Nigéria em 2014.
Mas flores na praça tramam revoluções.
Parabéns! Lindo artigo!
Muito obrigado Synnove!