Nesta segunda-feira, 11 de julho, estão sendo lembrados os 180 anos de nascimento de Antônio Carlos Gomes, cultuado como o maior nome da cultura de Campinas mas que não vem recebendo a atenção que merece da cidade onde nasceu e que amou tanto. Um ato ao lado do monumento-túmulo ao maestro e compositor campineiro, que brilhou na Itália na época de ouro de Verdi, rememorou na manhã de hoje a vida e obra do artista, que será mais uma vezes celebrado, em filme e livro, mas com um tributo ainda distante da importância que ele tem para a cidade e para o país.
Participaram da homenagem representantes do Centro de Ciências, Letras e Artes (que abriga o Museu Carlos Gomes), Academia Campinense de Letras, Associação Brasileira “Carlos Gomes” de Artistas Líricos (ABAL) e Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas (IHGGC), entre outros. Também presentes os responsáveis pelo filme que será rodado sobre o maestro, em função de projeto premiado da TAO Produções Artísticas. Outro presente foi o historiador Jorge Alves de Lima, que está preparando uma biografia em quatro volumes sobre Carlos Gomes.
Carlos Gomes é lembrado em Campinas com nome de praça, com o citado museu, um conservatório importante na área cultural e com uma semana de atividades em sua memória. Entretanto, ele poderia ser melhor divulgado, principalmente entre as novas gerações, pela importância que teve nos campos artístico e político.
Existe uma tese de que Carlos Gomes acabou não recebendo a valorização que merecia, pela República vencedora em 1889 – e para a qual Campinas foi fundamental – em função de suas origens monárquicas. O filho de Campinas estudou na Europa custeado por uma bolsa patrocinada pelo imperador Pedro II. Os republicanos vitoriosos, inclusive os de Campinas, não se sentiriam muito confortáveis, portanto, em ressaltar a relevância de Carlos Gomes, que encontrou grande notoriedade no cenário europeu nas três últimas décadas do século 19.
Este teria sido um dos motivos pelos quais Carlos Gomes, já doente, retornou de forma modesta ao Brasil, tendo ido atuar em Belém, do Pará, a convite do governador Lauro Sodré, que era um grande líder republicano. Carlos Gomes morreu na capital paraense, a 16 de setembro de 1896 – logo serão lembrados, portanto, os 120 anos de sua morte.
As duas datas, de 180 anos de nascimento e 120 de morte, são mais um indicador de como Carlos Gomes não é lembrado como poderia em Campinas. Uma grande reverência ao maestro e compositor seria a realização em Campinas de um importante festival de música, a exemplo de tantos festivais culturais que acontecem em outras cidades brasileiras e que se tornam referência nacional e internacional – como o festival de teatro em Curitiba ou até a mais recente Feira Literária de Parati.
Mas a cidade ainda está devendo para o Tonico de Campinas. Pouco antes de morrer, ele escreveu a Cesar Bierrenbach, fundador do CCLA: “Peço-te seres interprete de minha profunda gratidão perante nossos conterrâneos, pelas manifestações de afeto que por teu intermédio recebo no leito da dor, provocando lágrimas que se vertem, mas não se descrevem. A primeiro de novembro, sendo férias aqui, embarcarei para o Rio, S. Paulo e terra natal.
Abraça-te com Mamãe-Campinas. Tonico”. Ele não chegou a fazer essa viagem. Mamãe-Campinas poderia olhar com mais afeto para o filho querido.