O Carnaval de 2017 será muito especial. O Carnaval da crise, do arrocho, do fundo do poço, ou qualquer outro adjetivo ou substantivo que possa espelhar a grave situação do país. Já se fala em grande diminuição das verbas publicitárias que alimentavam escolas de samba, blocos e outras instituições carnavalescas. Como o brasileiro vai reagir? Dinheiro, ou a falta dele, nunca foi problema quando o assunto é Carnaval, mas no ano que vem outros componentes entrarão em cena.
O certo é que nunca na história do Brasil o Carnaval, síntese da identidade nacional, dirá tanto sobre a alma de seu povo. O Carnaval sempre foi o sinônimo supremo da alegria, o momento de suspender as convenções, de superar as barreiras sociais e de outras naturezas. Será que isso vai se repetir, depois de um ano em que muitos amigos, parentes e conhecidos brigaram literalmente por suas convicções políticas?
Será que o “espírito de Momo” vai prevalecer sobre o sentimento de intolerância, de ódio mesmo, que tomou conta de ruas e praças em todos os cantos do território nacional? E como será a participação dos carnavalescos, diante do festival de corrupção, desmandos e absurdos na área política que pipocaram por toda parte em 2016?
Apenas uma situação surrealista que o Carnaval de 2017 prenuncia: contestar a ditadura sempre esteve presente na folia, mas como será agora que, por incrível que pareça, tem gente defendendo abertamente a intervenção militar?
O Carnaval também sempre foi o espaço por excelência do respeito à diversidade. Será que continuará sendo, depois de tantos retrocessos nos costumes e no comportamento verificados nos últimos meses, na esteira do movimento fratricida percebido e catalogado em tantos círculos e segmentos sociais?
Tomara que o reinado da felicidade predomine. Tomara que a paz seja a vencedora. O Brasil terá, tudo indica, mais um ano duro pela frente. O estado de ânimo durante o Carnaval será um termômetro de como o brasileiro vai se comportar no resto do ano, quando rasgar a fantasia talvez não seja somente uma figura literária.