City Banda em 2016: os blocos fizeram a festa com o cancelamento do destile das escolas em Campinas, já por falta de dinheiro (Foto Martinho Caires)
City Banda em 2016: os blocos fizeram a festa com o cancelamento do destile das escolas em Campinas, já por falta de dinheiro (Foto Martinho Caires)

Nunca o Carnaval vai dizer tanto sobre a alma do Brasil

O Carnaval de 2017 será muito especial. O Carnaval da crise, do arrocho, do fundo do poço, ou qualquer outro adjetivo ou substantivo que possa espelhar a grave situação do país. Já se fala em grande diminuição das verbas publicitárias que alimentavam escolas de samba, blocos e outras instituições carnavalescas. Como o brasileiro vai reagir? Dinheiro, ou a falta dele, nunca foi problema quando o assunto é Carnaval, mas no ano que vem outros componentes entrarão em cena.

O certo é que nunca na história do Brasil o Carnaval, síntese da identidade nacional, dirá tanto sobre a alma de seu povo. O Carnaval sempre foi o sinônimo supremo da alegria, o momento de suspender as convenções, de superar as barreiras sociais e de outras naturezas. Será que isso vai se repetir, depois de um ano em que muitos amigos, parentes e conhecidos brigaram literalmente por suas convicções políticas?

Será que o “espírito de Momo” vai prevalecer sobre o sentimento de intolerância, de ódio mesmo, que tomou conta de ruas e praças em todos os cantos do território nacional? E como será a participação dos carnavalescos, diante do festival de corrupção, desmandos e absurdos na área política que pipocaram por toda parte em 2016?

Apenas uma situação surrealista que o Carnaval de 2017 prenuncia: contestar a ditadura sempre esteve presente na folia, mas como será agora que, por incrível que pareça, tem gente defendendo abertamente a intervenção militar?

O Carnaval também sempre foi o espaço por excelência do respeito à diversidade. Será que continuará sendo, depois de tantos retrocessos nos costumes e no comportamento verificados nos últimos meses, na esteira do movimento fratricida percebido e catalogado em tantos círculos e segmentos sociais?

Tomara que o reinado da felicidade predomine. Tomara que a paz seja a vencedora. O Brasil terá, tudo indica, mais um ano duro pela frente. O estado de ânimo durante o Carnaval será um termômetro de como o brasileiro vai se comportar no resto do ano, quando rasgar a fantasia talvez não seja somente uma figura literária.

Nem sangue nem areia em 2016: o Carnaval como afirmação da identidade cultural, no caso da Vila Industrial (Foto Adriano Rosa)
Nem sangue nem areia em 2016: o Carnaval como afirmação da identidade cultural, no caso da Vila Industrial (Foto Adriano Rosa)

 

Sobre José Pedro Soares Martins

Mineiro nascido com gosto de café e pão de queijo, ama escrever pois lhe encantam os labirintos, os segredos e o fascínio da vida traduzidos em letras.

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