"Manifestação na Paulista" e "Contra o aumento da tarifa de ônibus em Goiânia", de Jeferson Limas, na 13ª Bienal Naïfs do Brasil, no SESC-Piracicaba: a cultura popular traduzindo a sociedade contemporânea (Foto José Pedro Martins)
"Manifestação na Paulista" e "Contra o aumento da tarifa de ônibus em Goiânia", de Jeferson Limas, na 13ª Bienal Naïfs do Brasil, no SESC-Piracicaba: a cultura popular traduzindo a sociedade contemporânea (Foto José Pedro Martins)

Pensamento complexo frente a confusão do mundo (e do Brasil)

Está uma baita confusão, ninguém entende mais nada. O vociferante Trump ganha nos Estados Unidos e chama conservadores de todos os tipos para compor o governo, agregando mais decibéis de incerteza à perplexidade global. Atentado (mais um) em Berlim contra o Natal, indiferença mundial diante da tragédia (mais uma) em Aleppo. E aqui, na província, uma crise política e institucional que pode nos levar ao buraco sem fim. Quer mais?

Definitivamente as categorias de reflexão, diálogo e ideologia cristalizadas por séculos de prática não dão mais conta de ao menos começar a entender o que se passa em escala planetária. Aqueles esquemas quadradinhos, fechados em si mesmos, são impotentes para o necessário entendimento para a ação.

Aí vem o perigo do apelo ao já conhecido, muitas vezes retrógrado e fundamentalista. Não por acaso a tentação religiosa mais atrasada volta a vicejar pelos quatro cantos, contra uma espiritualidade mais libertária e tolerante.

Uma proposta de enfrentamento desse quadro de caos epistemológico generalizado é o pensamento complexo, que tem em Edgar Morin um dos seus principais teóricos. Alguns chamam de pensamento holístico, sistêmico ou ecossistêmico. Não importa a denominação mas o conceito, o da fome de reinvenção dos saberes e paisagens do conhecimento.

Há poucos dias na sede da Unesco, em Paris, foi realizado o I Congresso Mundial do Pensamento Complexo. Desnecessário dizer que o evento teve escassa repercussão na mídia. Mas o que se discutiu lá é muito importante para jogar luzes na balbúrdia do mundo – e do querido Brasil.

Um sentimento de urgência parece ter dominado o Congresso. Urgência diante das idéias e ações anti-vida que estão predominando, nos discursos e atos terroristas, na omissão frente a desgraça, na paralisia frente as ameaças ambientais cada vez mais sérias.

É preciso, de novo urgentemente, recriar a educação e os territórios consagrados ao tema, as escolas, mas também refundar a educação em sentido mais amplo, na linha da construção de cidades educadoras. A dimensão digital deve ser incorporada, mas para que seja um instrumento civilizatório a mais, e não o contrário, como vem acontecendo com as chamadas “bolhas” nas mídias sociais que impedem o diálogo, quando elas deveriam proporcionar justamente o oposto.

Enfim, trabalho pela frente. E esperança, porque a falta dela alimenta as soluções fáceis, o cinismo e o comodismo. Talvez um caminho seja olhar mais para o que dizem, pensam e desejam as crianças. Porque estamos na infância de novos tempos.

 

Sobre José Pedro Soares Martins

Mineiro nascido com gosto de café e pão de queijo, ama escrever pois lhe encantam os labirintos, os segredos e o fascínio da vida traduzidos em letras.

Check Also

Rio Piracicaba em agosto de 2014: sinal de alerta em toda a região para mudanças climáticas (Foto José Pedro Martins)

História do rio Piracicaba em obra coletiva é o meu livro número 15

“Rio Piracicaba: Vida, Degradação e Renascimento”, lançado em 1998 (IQUAL Editora), é o livro número …