Está uma baita confusão, ninguém entende mais nada. O vociferante Trump ganha nos Estados Unidos e chama conservadores de todos os tipos para compor o governo, agregando mais decibéis de incerteza à perplexidade global. Atentado (mais um) em Berlim contra o Natal, indiferença mundial diante da tragédia (mais uma) em Aleppo. E aqui, na província, uma crise política e institucional que pode nos levar ao buraco sem fim. Quer mais?
Definitivamente as categorias de reflexão, diálogo e ideologia cristalizadas por séculos de prática não dão mais conta de ao menos começar a entender o que se passa em escala planetária. Aqueles esquemas quadradinhos, fechados em si mesmos, são impotentes para o necessário entendimento para a ação.
Aí vem o perigo do apelo ao já conhecido, muitas vezes retrógrado e fundamentalista. Não por acaso a tentação religiosa mais atrasada volta a vicejar pelos quatro cantos, contra uma espiritualidade mais libertária e tolerante.
Uma proposta de enfrentamento desse quadro de caos epistemológico generalizado é o pensamento complexo, que tem em Edgar Morin um dos seus principais teóricos. Alguns chamam de pensamento holístico, sistêmico ou ecossistêmico. Não importa a denominação mas o conceito, o da fome de reinvenção dos saberes e paisagens do conhecimento.
Há poucos dias na sede da Unesco, em Paris, foi realizado o I Congresso Mundial do Pensamento Complexo. Desnecessário dizer que o evento teve escassa repercussão na mídia. Mas o que se discutiu lá é muito importante para jogar luzes na balbúrdia do mundo – e do querido Brasil.
Um sentimento de urgência parece ter dominado o Congresso. Urgência diante das idéias e ações anti-vida que estão predominando, nos discursos e atos terroristas, na omissão frente a desgraça, na paralisia frente as ameaças ambientais cada vez mais sérias.
É preciso, de novo urgentemente, recriar a educação e os territórios consagrados ao tema, as escolas, mas também refundar a educação em sentido mais amplo, na linha da construção de cidades educadoras. A dimensão digital deve ser incorporada, mas para que seja um instrumento civilizatório a mais, e não o contrário, como vem acontecendo com as chamadas “bolhas” nas mídias sociais que impedem o diálogo, quando elas deveriam proporcionar justamente o oposto.
Enfim, trabalho pela frente. E esperança, porque a falta dela alimenta as soluções fáceis, o cinismo e o comodismo. Talvez um caminho seja olhar mais para o que dizem, pensam e desejam as crianças. Porque estamos na infância de novos tempos.