Várias leituras são possíveis a respeito da trajetória do senhor Armindo Dias, empresário falecido neste domingo, 20 de maio, em Campinas. Vou destacar três, que aponto com base no conhecimento que tive dele, como jornalista e acima de tudo morador da cidade que ele, nascido em Portugal, amava tanto, como eu amo.
A primeira se refere justamente a sua origem lusitana. Era, portanto, um migrante, como tantos outros cidadãos brasileiros e mundiais que escolheram Campinas para viver. A cidade que abraça o que vem de fora, que acolhe e provoca um diálogo multicultural e multiétnico de enorme potencial.
Sim, não se trata de uma conversa fácil, há muitos ruídos nessa comunicação entre tanta gente de raízes distintas, mas o que a cidade já realizou em função dessa matriz de diversidade é impressionante. Campinas brilha toda vez que permite e valoriza esse intercâmbio, que recebe de forma apropriada o que vem de longe e torna seu, um legítimo campineiro. E, pelo contrário, a cidade perde, fica menor, quando exclui o “estrangeiro”.
Outra leitura também está vinculada à origem do senhor Armindo Dias. A imagem que muito brasileiro costumou a cultivar de Portugal é a do país que nos “descobriu” e explorou. Nos dilapidou, desde o ciclo do Pau Brasil e do Ouro, e só isso.
Armindo Dias (e tantos outros empreendedores) é o oposto dessa visão. Ele veio da terra de Camões e Pessoa e aqui construiu, edificou. Os frutos de seu trabalho estão aqui, visíveis para todo mundo. A sua história (e a de tantos outros lusitanos de nascimento) nos leva a olhar de forma diferente para Portugal, um país que ainda não descobrimos de todo.
A terceira leitura está ligada à segunda. O senhor Armindo é a síntese da capacidade realizadora de Campinas. De novo, a cidade brilha toda vez que é ousada, que pensa e faz o novo, o diferente. Alguns acharam que os projetos de Armindo Dias eram por demais grandiosos. Pois ele entendia que suas ideias eram do tamanho da Campinas que ele e outros enxergam.
Uma cidade com vocação cosmopolita, internacional. A cidade fica pequena, às vezes medíocre, quando tem medo de ser corajosa. Quando não projeta o futuro. Não é por acaso que tiveram sua biografia ligada a Campinas nomes que, pelo contrário, sempre pensaram grande e se destacaram por isso: Carlos Gomes, Santos Dumont, César Lattes, Zeferino Vaz.
Armindo Dias aqui viveu e aqui investiu. Queria o bem da cidade. Olhava para ela. Envolveu-se e apoiou várias mobilizações de cunho cidadão, além de seus feitos como empresário. Um exemplo que deveria ser melhor seguido.