Minhas tias são muito adeptas de todo e qualquer tipo de dietas para perder peso. Elas vivem trocando receitas sobre as mais poderosas dietas, encontradas em revistas de fofocas ou em posts de Facebook. Algumas dessas são bizarras e outras um tanto quanto exóticas, como a dieta do alfabeto pela qual se deve, religiosamente, comer alimentos cujos nomes começam com a primeira letra do alfabeto e segue-se progressivamente até após 23 dias, quando se cumpre a promessa de perder 10 quilos. Nem imagino o que elas comeram com a letra Z…
Não é preciso dizer que regimes alimentares e dietas devem ser feitos sob o acompanhamento de profissionais da área: médicos, nutrólogos, nutricionistas e demais especialistas são os únicos qualificados para propor uma dieta alimentar e um programa de bem-estar, pois, para perder peso, não é simplesmente deixar de comer, é preciso mudar muitos hábitos, e praticar atividades físicas é um deles.
Infelizmente, ainda hoje, os programas vespertinos de televisão ditam muitas coisas para minhas tias e para muita gente, por isso temos de tomar cuidado com eles. Não existe uma sopa mágica que fará você perder peso ou sucos detox que prometem desintoxicar (oi?) o organismo ou a crença do sangue alcalino. Não existem milagres
Mas, mesmo com todos os acompanhamentos de especialistas, perder peso é ainda uma tarefa bastante difícil e um tanto quanto complicada.
As dietas, muitas vezes, são ineficientes, isso porque o corpo funciona como um termostato, já que é ele que regula aquilo que comemos com o número de calorias queimadas. Quando comemos pouco, nosso corpo compensa isso queimando também poucas calorias, o que faz perder peso ser tão difícil.
É lá no cérebro onde esse termostato calórico é controlado, mas a maneira como a regulação funciona, em termos da quantidade de caloria ingerida com a quantidade de calorias queimadas, é ainda um mistério.
Pesquisadores da Universidade de Cambridge,, na Inglaterra, e do Colégio de Medicina Albert Einstein de Nova Iorque, nos Estados Unidos ,parecem ter descoberto de que maneira esse equilíbrio funciona e, ao que parece, um grupo de neurônios está envolvido com a regulação.
O hipotálamo é quem ajuda a regular o apetite, e ele está envolvido na regulação desse termostato, pois ele ativa um grupo de neurônios cerebrais, chamado (em inglês) agouti-related neuropeptide (AGRP). Esses neurônios têm um papel-chave na regulação do apetite. Quando estão “ligados”, eles fazem os animais consumirem grandes quantidades de comida, em oposição a quando os mesmos neurônios são “desligados” o animal deixa de comer quase que por completo. Esse ligar/desligar funciona da mesma maneira em humanos.
Os pesquisadores estudaram esses neurônios em ratos para entender melhor seu funcionamento.
Com a ajuda da genética, ratos tiveram esses neurônios ativados e, após, eles foram analisados em “câmaras metabólicas” que permitiram medir os gastos de energia e também sondas para medir as suas temperaturas corporais (um indicador de quanta energia era gasto pelo corpo). Os gastos de energia foram medidos em diferentes situações, onde os animais eram alimentados normalmente e também onde os animais não eram alimentados ou a uma dieta de baixa caloria (numa situação de dieta para perca de peso).
Os experimentos mostram que a ativação artificial dos neurônios em ratos, que não eram alimentados adequadamente, fazia com que eles tivessem uma redução na sua taxa de queima de caloria, uma maneira de o organismo manter a massa corporal e, assim, pouca caloria era ingerida. Por conseguinte, pouca caloria era queimada (um pesadelo para quem quer perder peso).
Em oposição, quando os ratos eram alimentados adequadamente (ou apenas ver ou cheirar a comida) os níveis de gastos de energia regressaram ao normal. Finalmente, ao expor os ratos a uma dieta rica em calorias por vários dias, inibia esses neurônios e, com isso, o organismo queimava mais calorias a um nível mais rápido.
Esses neurônios controlam a queima de calorias, como uma chave de “ligar” e “desligar”. O mecanismo poderia justificar por que fazer dieta é algo tão difícil e, em muitos casos, não funciona. Essa descoberta vem a abrir novas possibilidades de terapias para a perca de peso e o controle do apetite, como o surgimento de medicamentos que poderiam inibir a atividade desses neurônios, “ligando” ou “desligando” esse termostato.
O trabalho “mTORC1 in AGRP neurons integrates exteroceptive and interoceptive food-related cues in the modulation of adaptive energy expenditure in mice” pode ser encontrado no seguinte endereço
Parabéns pela publicação dessa matéria, André. Bom trabalho! Foi bastante esclarecedora e também traz novas esperanças para todos nós que enfrentamos essa situação de estar buscando sempre o peso ideal e de querer manter uma boa saúde!