No mundo dos livros que ficam para a eternidade, um nome se destaca na cena norte-americana: Max Perkins (1884-1947), editor e descobridor de escritores como F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Não devia ser nada fácil chegar para um deles com seus manuscritos e mandar cortar parágrafos, sequências inteiras, personagens… ou até mesmo mudar o nome de um livro (!). Mas Perkins era implacável.
Um relacionamento em especial chama atenção em sua história, contada na biografia “Um Editor de Gênios” (Genius, no original), de A. Scott Berg; foi com Thomas Wolfe (1900-1938), um autor (não confundir com Tom Wolfe, de “A Fogueira das Vaidades”) que apesar de pouco conhecido no Brasil, influenciou toda uma geração com sua escrita rápida, ágil e nervosa que daria, décadas depois, forma ao movimento beat, que Perkins enfrentou um de seus maiores desafios. E um de seus maiores dilemas.
A história de como Perkins e Wolfe trabalharam juntos rendeu um filme que só pode agradar quem se interessa por (boa) literatura. “O Mestre dos Gênios”, que marcou a estreia do ator Michael Grandage na direção, apresenta, em tons de sépia, um belo recorte de como nasce um escritor. Mas não só, já que durante o processo o jovem autor acaba se tornando um best-seller, vende mais que Fitzgerald e Hemingway e se transforma em um pop star de sua época. Sua morte precoce, aos 38 anos, só ajudou a reforçar o mito – entre os amantes da literatura.
Colin Firth interpreta o metódico Perkins com sua habitual competência, Jude Law entra muito bem na pele de Wolfe, um sujeito atormentado e temperamental, enquanto Dominic West é Ernest Hemingway e Guy Pearce vive Fitzgerald, que aparecem em alguns momentos fundamentais do filme. Há ainda a participação de luxo de Nicole Kidman como uma das mulheres de Wolfe. O roteiro destaca a turbulenta relação entre o editor e o novato até a publicação do primeiro romance, “Look Homeward, Angel”, em 1929, e segue até a passagem para a obra seguinte, “Of Time and the River”, de 1935.
Perkins já tinha editado os primeiros grandes trabalhos de Fitzgerald e Hemingway quando caiu um suas mãos, em 1928, o manuscrito do desconhecido Thomas Wolfe, chamado “Lost”. O recém-chegado da Carolina do Norte, com seus 1,98m de altura, era intenso, só escrevia a lápis, em pé, e entregava os originais em caixas de papelão abarrotadas. Os manuscritos quase ilegíveis eram intermináveis, pois Wolfe gostava de escrever muito e, a princípio, Perkins mais cortava tudo do que fazia outra coisa. Aliás, o editor era famoso por seus conselhos ao estilo “menos é mais”, como bem nos mostra sua biografia. O interessante do filme, e da biografia, é que Perkins termina seus dias se questionando se os livros que editou tinham ficado melhores do que os originais e se ele, talvez, não tinha “sufocado” a voz do autor com tantas interferências. No caso de Wolfe, após editados, o primeiro livro saiu com quase 600 páginas e o segundo com 912 páginas (na edição da época).
“Eu sentia que se minha vida e minha força se mantivessem, se minha vitalidade se mostrasse em cada página e se eu prosseguisse até o fim, o livro seria maravilhoso, mas tinha dúvidas de que a vida fosse longa o suficiente, achava que seriam necessários dez livros, que ele seria o mais longo já escrito”, escreveu Wolfe. “Tive um livro imenso e quis dizer tudo ao mesmo tempo: não é possível.” Mas foi.
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