A minha paixão pela Educação não é de hoje e nem é de ocasião. Ela nasceu comigo porque ela vem de minha mãe, professora, de minhas tias, professoras, de meu avô, um sonhador que uma vez ousou ter uma escola que deixou muitos frutos em minha cidade. A minha paixão pela Educação também veio de meu pai, que em criança chorava quando, morando na roça, não podia ir assistir aulas quando chovia ou por algum outro motivo.
E essa paixão só aumentou porque tive as professoras, e depois professores, que tive, desde o prezinho. Dona Lurdinha, Dona Laís, Dona Iolanda e por aí vai, e a Dona Nabirra, com quem aprendi ler de fato um livro, escrevendo sobre ele, o que faço até hoje. Eu me emociono sempre quando lembro disso tudo, como faço agora, e me dá uma alegria tão grande porque tive o que tive e uma tristeza tão profunda com o que fizeram e continuam fazendo com as professorinhas deste país.
Todo mundo sabe disso. A tradição brasileira, desde os tempos do Brasil Colônia – no qual parte da elite ainda gostaria de continuar vivendo – é a de que Educação escolar ser um privilégio de poucos. O quadro começou a mudar de fato com o fim da ditadura militar-empresarial de 1964-84 (e que agora, suprema cara de pau, alguns gostariam de restaurar).
A escolarização para a idade de 6 a 14 anos tornou-se quase completa – e esse quase faz diferença enorme, pois significa que milhares de brasileirinhos ainda não vão à escola. Agora, a partir deste ano, toda criança de 4 e 5 anos também deve estar na escola, o que a médio e longo representará muito para o desenvolvimento integral da infância. Esperemos que a universalização também chegue, e logo, à creche.
Ainda há desafios importantes para o ensino médio, principalmente porque o atual formato deixou de fazer muito sentido para os jovens da geração Internet. E temos o acesso à Universidade, que aumentou consideravelmente na ultima década – para desconforto de quem gostava de vê-la reservada para uma minoria – mas ainda está longe do desejável e recomendável, em termos quanti e qualitativos.
Mas, em suma, o quadro geral de acesso melhorou substancialmente, perto do que acontecia há pouco mais de duas décadas. E grande parte, ou a maior parte, dessa mudança aconteceu pelo esforço, pela garra, daquela professorinha que, como as minhas, continua sendo o motor que verdadeiramente move esse país tão querido e tão castigado, tão lindo e tão assaltado em suas riquezas e sonhos .
Claro, ao contrário do que ocorria em minha infância e adolescência, hoje é grande o numero de professores homens no ensino básico, mas a maioria, de 80%, é de mulheres, e por isso falo em professorinha, no diminutivo-carinhoso, tamanho o amor que tenho por elas. Um amor que só aumentou porque, nos últimos 12 anos, tenho tido, por questões profissionais, o privilégio de ver de perto o trabalho delas, em várias cidades, de diversos estados. E posso garantir, a vontade, a disposição e generosidade são as mesmas, hoje, do que as professoras do “meu tempo”.
Pois bem – ou pois mal, na realidade. São as professoras e professores que fizeram essa mudança dar certo e, na pratica, elas e eles estão sendo não recompensados, mas punidos por isso. A culpa do déficit de qualidade no nossos sistema de ensino ainda recai sobre a professora e professor, mesmo sabendo-se que esses profissionais trabalham tanto e ganham tão pouco – pesquisa mostrou que o professor brasileiro ganha pouco mais da metade do que outras profissões, enquanto é o que mais trabalha, em média, segundo estudo recente da OCDE. Formação continuada e carreira profissional são ainda realidades distantes.
Pois além de seu trabalho primordial, de ensinar a ler e escrever e fazer contas, e ajudar a dar instrumentais para a criança construir seu próprio conhecimento e a se colocar de forma autônoma e responsável no mundo, a professora e o professor do ensino básico continuam sendo punidos, porque recai sobre elas e eles a carga de ter de lidar com questões complexas e delicadas, que as crianças trazem de casa em função de questões estruturais , profundas, que ainda não foram resolvidas pela sociedade e Estado brasileiros.
É senso comum que a escola precisa mudar, e muito. Ela precisa ser muito mais dinâmica, atraente e sedutora do que era, para fazer frente à impressionante velocidade das mudanças tecnológicas que estamos presenciando – em uma era que, desconfio, da qual estamos vivendo apenas a sua infância.
Mas uma esperança eu tenho, e ela é justificada, acima de tudo, pelas professorinhas que eu tive e que continuo vendo por todo lado nesse Brasilsão. O Brasil pode continuar contando com esses cidadãos com todas as letras. Os, hoje, 3,3 milhões de professoras e professores do ensino básico que continuam “carregando o piano” e que, com o respeito e atenção que merecem, ainda hão de tornar a nossa nação aquela em que todos merecemos viver, com felicidade, liberdade e paz tatuados na alma.
Eu, de minha parte, continuarei o compromisso o que assumi, e que não é de hoje, é de sempre, só vai cessar quando eu não estiver mais por aqui, de poder contribuir para ver professoras e professores sendo valorizados como deveriam. Não há outra saída e nem entrada para o Brasil de nossos sonhos.
“Uma mulher magra de aparência muito frágil, mas que, logo se descobre, na realidade tem uma força im pressionante_ a força que vem da alegria de viver e ensinar…” José Pedro esta é a definição de professora que você coloca no seu livro Minha Escola Cresce, que tive o prazer de ler, e que é a realidade de muitas professorinhas espalhadas pelo Brasil, guardo sempre estes dizeres, me identifiquei. Foi com muita saudade das primeiras mestras que li seu texto, muito bom! Gratidão meu caro, beijos!
Eu que agradeço pela enorme dedicação à Educação, Ilza. Beijo!
As lembranças invadem meus pensamentos. Um leve sorriso de alegria paira nos meus lábios mas também cheio de tristeza e cheio de saudade.Tenho a alegria de ter podido viver os tempos passados. Tenho tristeza porque meus desejos não foram concretizados em relação a educação mas como todo professor não perco a esperança. Dias melhores virão. Como você, deve haver outro e mais outro e mais outro a reconhecer e dignificar o trabalho do professor. Obrigada por ser como é.
Muito obrigado e parabéns pela reflexão, Dalvinha, beijo!