Pois o movimento dos caminhoneiros, em protesto contra as altas constantes nos preços dos combustíveis, entrou no quarto dia com impacto em vários setores da economia e no cotidiano dos brasileiros. O desgastado Palácio do Planalto tenta agir com acordos que, até o momento, não sensibilizaram os motoristas. Os profissionais ainda não parecem dispostos a voltar ao trabalho, entendendo que o oferecido pelo governo é muito pouco. Várias questões em jogo e uma delas é a da insustentabilidade de nosso sistema de transporte e de nossa matriz energética, tema pouco falado até o momento nessa crise assustadora.
O Brasil tem cometido erro em cima de erro nesse sentido. Abandonou as ferrovias e não tem explorado como poderia as hidrovias, deixando portanto todo o transporte de carga, ou grande parte dele, com os caminhões que trafegam por rodovias esburacadas e enfrentando pedágios muito altos.
Muitos projetos de transporte coletivo anunciados por ocasião de Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016 não saíram do papel ou foram consumidos pela corrupção. Caso do malfadado trem-bala entre Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro.
Outro eixo é o da insistência no petróleo e seus derivados, ao contrário de necessário investimento maior em outras fontes energéticas. Muitos países têm avançado consideravelmente nos automóveis elétricos, mas no Brasil, por falta de incentivos, o ritmo é lento diante das urgências, o combate ao aquecimento global entre eles. O investimento que vem sendo feito por empresas como a CPFL é um nítido sinal de esperança de que as transformações podem acontecer.
Em síntese, o caos que o movimento dos caminhoneiros tem provocado deveria ser um momento de profunda reflexão em torno do imperativo de avanços substantivos na transição para uma economia sem carbono e, ao mesmo tempo, de maiores investimentos no transporte coletivo. Poluição, engarrafamentos, mortes no trânsito – tudo isso deriva de um modelo de cidade e sociedade construído sobre a economia do carbono, do petróleo sobretudo. Chegou a hora, passou a hora de acelerar as mudanças que gritam para acontecer.